quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Capítulo X - Ainda Caminhando

     Enquanto caminhava pela rua, correndo, subindo e descendo escadas, atravessando ruas e passando entre as pessoas, dentro e fora do transporte coletivo, segurando desajeitadamente sua caneta e um velho e amassado punhado de papel que compunha um estapafúrdio bloco de notas, Frank escrevia para o seu ainda amigo:

Não espero seu favor; penso, não seria justo.
Agrada-me sua companhia. Nada deve privar-me da presença do meu companheiro.
Não espero que me mostre o caminho, ou que esteja à frente dele, mas não me prive de ouvir de perto sua respiração, também esbaforida pelo cansaço em razão da árdua caminhada.
Não peço que me pegue pela mão, mas é fundamental sentir seu toque.
Cante comigo, mesmo que apenas suspirando, mas não me prive de ouvir sua canção, cansada e agonizada de amor.
Espero nada mais, mas pouco além, que esteja comigo.
Estenda comigo a mão que nada tem a oferecer.
Trilhe comigo os caminhos, mesmo que não os possa conhecer.
Enfim, caro amigo, permaneça suave e presente.
Procurarei lembrar-me do som de seus passos quando pensar que está ausente.
Caro amigo encantador, seu amor é uma canção incrível.
E como não poderia deixar de ser, isso lhe escrevo por todos, pois somos cansados.
Pretendamos permanecer sensíveis, para perceber no vento, ainda, sua respiração.

sábado, 6 de agosto de 2011

Do Sol

Hoje acredito que o mesmo Sol ilumina a todos. Porém, a percepção desse calor é relativa a cada um, depende de suas historias e valores em geral.

Alguns sentem febre, e o calor se torna frio, alguns ficam na sombra vislumbrando, de dentro, o brilho do Sol. Outros ainda dizem que o sol não existe, e chama o calor e a luz de sorte.

A capacidade de criar sentido e a necessidade de estar certo nos faze, muitas vezes, acreditar entender e saber o significado do Sol

A busca pela felicidade nos deixa cegos diante de um vislumbre egoísta da luz, onde o brilho intenso só é dissipado quando olhamos para nós mesmos. Precisamos cobrir os olhos.

Os desejos pessoais nos levam a supervalorizar o calor que sentimos, ignorando o frio de quem tem febre, ou está na sombra.

Porém, algo me parece elementar. O Sol nunca sai de seu lugar, e brilha até mesmo sobre a caverna de quem tenta se esconder de sua luz. O sol continua iluminando e aquecendo o que sente febre, mesmo que esse o perceba como frio, em razão de alguma enfermidade, sua inflamação, a vida.

Diante disso tudo devemos considerar uma necessidade e muitos medos. A necessidade de voltar para o Sol, sem precisar definir seus valores, o grau de seu calor e a força de sua luz. Apenas vislumbrar seu brilho e seguir o caminho, ele qual seja, motivado pelo seu esplendor, tornando-o significativo e evidente, criando influenciado pelo seu puro criar constante e livre, procurado confortar o fardo que vem do próprio fato de existir.

Tenho medo de achar que entendi o Sol, e supervalorizar meus sentidos criados, a percepção que tive do calor, e a cor que imputei à luz. Tenho medo de criar, ou usar o criado, para esconder o Sol de quem o vislumbra, seja lá como for, e mesmo os que se escondem dele. Seu calor continua a aquece as pedras que formam as cavernas, e isso gera água que alivia a sede de quem sente calor, por estar abafado dentro de seu esconderijo.

Atormenta-me uma busca onde a luz do Sol confunda e torne cega a minha visão ao ponto de não mais ver o outro, e fique tão quente a ponto de não sentir o calor de quem está ao meu redor.

Por fim, me preocupa querer tanto ao Sol e não querer quem anda comigo. Achar sentir tanto o calor do Sol e não procurar se aquecer com quem anda escondido. Buscar tanto a luz e confundir minha visão.

O mesmo Sol brilha para e sobre todos. Negando a necessidade a vontade e a busca poderiamos, talvez, vislumbrar com mais pureza e comunhão a diversidade do verde nas arvores do caminho.