domingo, 29 de dezembro de 2013

Gramado

Sentir falta de quando julgava saber,
Parece natural.
Sensação de sentido
Mesmo que falsa, então.
Nostalgia de mentiras aconchegantes
Quando ser não parece, mais,
Uma piada sem graça.
Um acidente horrendo
Desagradável até ao seu promotor, o Criador.
Pois, quando até mesmo o aparentemente belo
Não gera gosto,
Ímpeto ou contentamento,
E não há animo e, então,
Nem o Som, mesmo pensado bom,
Não parece mais, tanto quão,
Quando da adormecida bendita
De quando o ser até, as vezes,
Satisfazia.

Seguro nas raízes sensíveis
De um gramado
Em um jardim mal cultivado
Mas que eventualmente chove
Não deixando morrer
Os resquícios de algo que, outrora,
Gerou vida e não o deixa de fazer.
Marca bem vinda
Cicatriz de herança viva
Mantendo o ser
Mesmo que sufocado
Ainda ali,
Com coragem.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Chorão

Sim, sou um chorão
Choro ao ouvir uma bela música
Choro ao final de um belo filme
Sou um poço de emoções
E não precisar haver motivo
Nem sentido
Sou frágil
Sinto falta de meus amigos
Choro com lembranças
Sou um chorão
E orgulhoso disso
Talvez, até
Isso seja ser feliz

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Amor Juvenil

Acredito no Som
Ao ponto de que me sinto
À vontade para odiá-lo
Intimidade
Por vezes
Não alcançada pelos religiosos
Que apenas o temem

As vezes o amo
Com aquele sentimento juvenil
Que se tem pelo primeiro amor
Nunca correspondido
E quando acho que me ama
Fico desconfiado
Não por desmerecimento
Mas como por suspeita de cilada
De ser amado por quem
Aparentemente
Nunca falou comigo

Às vezes o vento
Que seca meu suor
Já frio
Parece refrescar aquele sentimento
De esperança confusa
De que aquele olhar frio
Da minha enamorada
Signifique algo
Amor juvenil
Esquecido desde a infância
Inocente
Mas que por vezes vem a memória

Às vezes acho que era bom
Sentir aquilo
Impossível hoje em dia
Então o desprezo
Também confuso
Faz-me dar conta
De que não sei
Se ainda amo
Mas sei que não temo
Se houver alguma verdade
Sobre o que quer que seja
Ou tenha sido
 Essa relação agora fria
Mas que por vezes
Aquece meu espírito

Tenho memórias da primeira paixão
Recordo como hoje
O coração em calafrios
Isso já não tenho
Talvez nem seja mais possível
Mas não esqueço que
Talvez
Algum olhar
Mesmo que aparentemente frio
Possa ter
Ainda
Algum sentido

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Pelo Fim!

Todo riso me mostra dentes podres
Quando nem esperança faz sentido
E quando o espírito
Que é a união de tudo que nos faz vivo
Morre
Todo suspiro fede
E seu bafo terrível mata o já morto
Da alma infeliz de quem vive sem querer
Nada justifica o sofrimento
Nada justifica a vida
E ser parece apenas um castigo terrível
Imerecido
Ah! Quem me dera não ser
Quem me dera ser não ter que
A felicidade é tão burra que a sorte parece sorrir
E a é tão angústia tão subestimada
Que o belo perde toda graça
Pelo fim!
Pelo fim!

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Ser Não Mais

Meu espírito não se acovarda
Ou pede caprichos
Mas, antes, deseja ser ele mesmo
Minhas vísceras não se embolam
Por medo ou susto
Esta é sua anatomia natural.
Obviamente que ser não é,
Para todos, um bolo confeitado
E acordar não é como feriado
E mesmo que o sol esteja
A brilhar sob nuvens escondidas
Ser não é, necessariamente,
Uma lâmpada acesa
Portanto, ir preciso
Para onde a luz não me faça
Doer os olhos.
Na luta contra a felicidade inepta
Falsa, imposta pela necessidade
De ser, ter que.
Meu refúgio e busca não é só
Mas, antes, coragem de tentar
Ser livre.
Por fim, desta feita e razão
Ser deve não ser mais imposição
De necessidade brusca e tosca
Mas reconhecer-se longe
Da necessidade de ser.
E que toda noite seja sábado
E toda tarde domingo
E o trabalho sempre o fim
A cerveja sempre gelada
Para que a vida faça sentido
E não seja somente peso
E com afinco a vida segue

domingo, 7 de julho de 2013

Dor

Não acredito que Deus se mete no tempo
Não acredito que Deus se mete na vida
Não acredito que Deus se mete no ser
Não creio que ele saiba
Ah! Contingencia! Lá ele está!
Não acredito que Deus mude algo
Mas creio que ele conhece o coração
O coração do homem perdido
O coração de quem sofre
Seja o sofrer qual for
Certamente lá estará
Aquele que sabe como é a dor

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Vislumbre

No sublime te vislumbro
No belo há descanso
É com agonia que canto
A negação de sua ausência

Não cobra nada
E nada espero
Por consciência
Não por vontade

Sua potencia é suave cheiro perto
Sua essência é perpétuo afeto

Minha distância é só medo incerto
Questões ônticas nada solitárias
É grito de todos

No sublime te vislumbro
Fácil de ti na alegria regozijar
Quando sei nunca estar longe
No sofrimento confraternizo
Se torna necessário
Não creio ter algo errado nisso

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Dois Anos

Quanta coisa pode acontecer em dois anos
Mais do que em toda a vida que já foi
Quanto o tempo pode sangrar
Mais que os machucados que ficam
Quanto se pode perder e ganhar
Mais do que a vontade de luta
E assim ainda continuar
Com o tempo atrás e na frente
Quanto pode o caminho passar
E dos passos perder a conta
Ainda assim continuar
Com e sem tudo que foi e pode ser
Nem coração nem pé suprem
Aquilo que a cabeça mal entende
Os dias passam e ainda nem acordar
O sono quase faz perder os sonhos
E acordado não se dar conta do cansaço
Quanta coisa pode acontecer no tempo
Perdido e ganho no espaço
Quanta coisa pode acontecer em dois anos
E se ver de novo perdido no caminho
Quanto o tempo pode ser mais
E menos depois de ter sido
Pois se perde tanto quanto sentido
Se pode ganhar depois de tudo

sábado, 22 de junho de 2013

Meu mundo

Meu mundo não mais se confunde
Por mim mesmo e nem pelo amor
Está torto e incerto de tudo
De nada saber para além do contingente
Esperança e medo

Meu mundo não é só meu ou da minha cabeça
Ele também está confuso e nas ruas

Nesses dias não se houve falar em poesia
Pouco vejo alguém cantar com beleza
Mesmo a esperança me parece falsa
Ela tem, por vezes, causado risos demais
Ainda não vejo sentido

Estou ansioso pelo futuro
Mas receoso de caminhar
O tempo é meu inimigo e companheiro
Como crianças que brigam e faz as pazes o tempo todo

Meu mundo está em briga
Melhor, sempre esteve
Melhor ainda, sempre estará!
Pior, talvez veja, me dou conta, não é meu

De quem é o mundo de que confundo?
Dos incertos, certamente...
Meu mundo se perdeu na terra
Me dou conta estarrecido
Nunca foi meu! Nunca foi meu!

terça-feira, 11 de junho de 2013

Sede



Toda lagrima que ja me fez chorar
Mataria sede de toda gente
Se não fosse de água salgada
Que de nada serve
Apenas mata mais

Pinto fundos de poços
E o fundo de cada poço sou eu
De cada copo que dedico
Á memória que de ti me inebrio
Para esquecer as lagrimas
Que não matam a sede que ficou

Minha sede é o samba que bebi
E esqueci na sarjeta
Cantei uma vez para a lua
E somente a sua luz ouviu
Antes da chuva me despertar
Quando morto cheio de lama

Poema feito com a colaboração, tanto no texto quanto na genial pintura, de Lizandra Santos (http://lizandraliz.blogspot.com.br)

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Inútil

Chega o dia que é melhor sofrer quieto
Do que falar palavras inúteis
Chega o dia que é melhor desistir
Do que ter esperanças inúteis
Chega o dia que é melhor engolir mentiras
Do que falar verdades inúteis
Chega o dia que é melhor não ser
Do que ser inútil
Chega o tempo que é melhor não amar
Do que amar inutilmente

sábado, 25 de maio de 2013

Cabeça em letra

Quando escrevo
Minha cabeça vira letra
Mas a razão, sem noção
Essa vira fumaça
Por isso os versos
Que de tão diversos
Atrozes mas gentis
Cantam erradamente
A verdadeira falta
De sentido e razão
Pois toda letra que sai
De minha cabeça, eu digo
Não tem sentido não  

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Leveza

Ah, leveza
Não se afaste
Está clara na razão
Mas basta um então
Para do coração dar um pulo
Descontente.

Ah, leveza
Não se estrague
Desistir deve de esperar
Que se acerte ainda nesta lua
O que só tristeza traz
Contínua necessidade
Inepta, Estapafúrdia.

Ah, tristeza
Vá, mas volte sem demora
Trazendo consigo o pão e o vinho
Que alimenta e atordoa
Faz a vida parecer tão boa
Confunde, mas persiste.

Ah, tristeza
Seja leve comigo
Que de tanto que perde
Desiste de ganhar
E só sente falta
Do peso que não mais há.

sábado, 18 de maio de 2013

Vida

A tristeza enfadonha a vida
Não é minha alma que cansa
Nem tão pouco meu espirito
Lamuriante não fica meu corpo
Cansada está sim, por fim
A vida

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Espírito Cansado

O Espírito cansa
Ah! Como faz falta
Sua ausência tornou tudo louco
Herdei o sofrimento
Mas com ele esperança
Força e luta nunca faltou
Mas dor sempre foi
E parece, será
Presente contínuo

O espírito cansa
Nenhuma guerra é mais minha
Apesar de sofrer todas dores
Não há como fugir
Nem tão pouco ficar
Sua ausência bagunça tudo
Sem sua voz canção não ouço

Se necessário é viver com isso
Melhor lutando
Mas pelo o quê?
Pois toda luta é tola
Quando não é a beleza seu fim

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Leviandade

Leviandade merece perdão
Quando possível não mais é
Viver em função da razão
Que antes me levava a pensar
A vida como um samba antigo
Daqueles que compenetrado
Cantarolava todos os dias
Quando ainda pensava ser
A vida curta e não pequena

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Agouro e Sorte

Pensas que de ti me afugento?
Sua ausência é o fantasma que queria por perto
Pensas que sua vida causa em mim ranhuras?
Flagelo suficiente não há para falta dessa dor
Consubstanciada está a falta
Que de mentiras me acusa violação
Acrescenta de nada a dor
Perpetrada nas vísceras de odor e sorte
Que de mau agouro e terminante morte
A fumaça de seu espírito se apresenta
Para mim como memória obstante
Como em um tempo onde não ser
Era o que de tudo restou

terça-feira, 30 de abril de 2013

Memória

Memória santa!
Acordei e não lembrei.
Ah! Como foi bom.
Ver o dia e não pensar no sol
A bela arvore falsa em seus olhos,
E o fogo apagado na sua cabeça.
Mas o tormento logo volta,
De que sentido tive em vida
E de que tudo voltou a ruir.
Falso também são meus olhos!
Em minha cabeça, fumaça
Porque o que de minha memória gastas
Na minha mente seria mais útil...
Memória inútil!
Conseguindo voltar a pensar no amor
Como uma coisa boa
Realizável ainda em vida
Pois não lembro mais
De quando era bom
O tempo que passava
Em amor a pensar

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Fim da Vida

No fim da vida
Sempre há um samba
Uma mentira oculta
Que esconde o amor
Por de traz de toda dor
E a esperança inútil
A gota que transbordou
E molhou tudo
Até não restar mais
Verdade que fosse
Escondida pela lama
De toda essa vida suja
Amaldiçoada por sofrer
Por esperar a paz
Impossível de haver
Por ser sempre
Tudo errado

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Humano...

- Sou cristão
- Medieval!
- E acredito no amor
- Romântico!
- Quero que mude a cultura
- Classicista!
- E justiça para todos
- Comunista!
- Quero viver o dia
- Existencialista!
- Porque a vida é pequena
- Maluco!
- Sou tudo isso só que nada
- Pós-moderno!
- E um dia morrerei
- Humano!

sábado, 20 de abril de 2013

Palavra Certa

Vento Suave
Que não chega jamais
Cansei de pedras
Em minha cabeça
Que mal sente
Agora e sem mais depois
Os ventos de ar
Do pulmão poluído
Das fumaças
Saídas de sua boca
Quero canção quieta
Palavras certas
Que sem medo
Sem vontade
Livre, ardente e certa
Aquieta e fortalece
Me dê
Por fim
Aquela paz
Que sem mentiras
Esperança me fazia
Conseguir escrever

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Fim de voz

Cante raiz, eu sou árvore
Sua voz não ouço mais
Caiam folhas de meus ramos
Minha voz não quer ouvir
Até em arvores secas
Os pássaros voam, pois
Grandes são os jardins
E o sol da esperança
Novas cores dão às folhas
Que nasceram e que ficaram
E é assim que se vive
Até sem jazz e blues

segunda-feira, 4 de março de 2013

A barata

Fui ao banheiro e pisei em uma barata. Crente de que a tinha matado, lavei minhas mãos e comportei-me em meus aposentos. Depois estava tomando uma cerveja com um amigo, conversando sobre desventuras da vida e ouvindo belos sambas. Como qualquer bom bebedor que se preze, o banheiro é seu lar, pois toda hora de si quer sair o que bebeu. Foi quando avistei a barata a ainda se mover, cheia de vida, querendo ir embora. Lembrei-me de mim e de minha vida, de Kafka e de suas viagens, de meus desânimos e minhas esperanças. Sou barata movendo articulações. Meu sangue é amarelo e gosmento. Minha vida é insignificante e fugaz. Mas quando voltarem ao lavador, lá estarei movendo minhas pernas.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Capitulo XVII - Amor no Carnaval

O dia estava cinza e chuvoso, como qualquer outro, característico do falso verão que engana os moradores da cidade. Tanto o metrô como o ônibus não estariam lotados, talvez em razão da iminência do carnaval. Na verdade, creio que sim. De fato era um dia comum, mas não normal. Frank vinha já de dias de agonia e conflitos sem nome, porém sem deixar de tentar vislumbrar o “verde como o céu azul, a esperança” como diria Cartola e um de seus sambas.

Tendo acordado não tão cedo e ainda assim de pouco dormir, Frank se dirigiria para o outro lado da cidade, onde um momento simples de almoço alimentaria também seu amor, certamente cheio de fome.
          
Enquanto esperava o ônibus, segunda condução já a tomar em tão breve tempo, um homem simpático claramente perdido pergunta:

- Santana? – Frank tira de seus ouvidos os fones e ouve o forte som da chuva em meio aos carros e buzinas, normais na cidade, e diz – Você pode pegar o metrô - Ao que o outro retruca – E o metrô vai para Casa Verde? - O ônibus pra lá acabou de passar, mas ele passa aqui sim.

Como se nada tivesse acontecido, mas se sentindo familiarizado com a cidade pois soube informar ao peregrino algo para outros talvez não tão simples, Frank volta a colocar seus fones de ouvido e percebe que uma de suas musicas preferidas estava tocando. A linda musa do Brasil, Elizeth Cardoso.

Tendo entrado no ônibus não foi difícil arrumar um lugar para sentar, e aproveitando estar devidamente instalado deu-se ao rápido trabalho de trocar de música, e desfrutava daquela poesia.   
  
Alguns minutos depois, já perto de seu destino Frank percebe que as pessoas o encaravam, atônitas, com fisionomias preocupadas. Foi quando um corajoso fez a pergunta que todos queriam fazer – Porque está chorando rapaz? Tudo bem? – Frank olha para os lados e percebe sua estapafúrdia situação e calmamente responde – Está tudo bem sim, apenas estou ouvindo Cartola.