domingo, 4 de dezembro de 2011

Canção de Domingo

Amo ao Som que conheci em minha infância
E a Ele me recorro quando sinto falta de casa
Certamente essa idéia me espanta
Mas não tanto quanto a falta
Que ao meu espírito cansa

Anseio ao Som da minha juventude
A canção que dancei quando ainda tinha pernas
Talvez agora não saiba mais andar
Mas minhas pernas me guiam por algum caminho

Não mais busco sentido ou caminho
Não mais procuro estar certo
Nem mesmo uma canção que me faça dançar
Quando meu espírito se cansa de mim mesmo
Automaticamente é ao Espírito de toda música que ele recorre.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Diagnóstico

Na sala gelada, com paredes braças, deitada numa cama pequena, com um colchão fino e cobertas usadas por pessoas que não se sabe o que teve, dava pra ouvir os apitos do aparelho que monitora os batimentos cardíacos da paciente.

William estava aflito, pois tinha alguns motivos para duvidas, ele não sabia se sentia raiva ou se compadecia em perdão em razão das condições de Augustine, mas também considerava que não havia motivos concretos para a raiva, pois sua esposa estava inconsciente e ainda não haviam respostas.

O doutor entrou na sala e deu o diagnóstico para William. Augustine estava com Sífilis, e seu cérebro havia sido afetado na parte que controla os movimentos do corpo. Felizmente não seria afetada sua memória, nem mesmo a razão, mas provavelmente não recuperaria mais os movimentos da perna. Bastava saber a origem da doença, que parecia ter se manifestado de forma repentina.

- Algum histórico na família?  - perguntou o doutor á William.
- Não pelo que eu saiba, doutor. Estamos casados a 12 anos, e nunca falamos sobre isso. Do que conheci dos pais dela, não parece que houve tal problema na família.
- Faremos alguns exames – respondeu de forma séria – mas precisamos saber se existe algum motivo para desconfiança. Augustine ainda está inconsciente em razão dos sedativos dados para a dor, e precisamos saber a causa da doença para que o tratamento seja eficiente.
- Tenho tentado fugir dessas perguntas - Disse William - Não sei o que te dizer agora, tenho algum tempo?
- Fique a vontade - disse o doutor, antes de sair da sala.

Enquanto William olhava absorto para Augustine sem saber o que pensar, percebeu que seus olhos lentamente se abriam.

- Olá querido – Disse Augustine bem baixinho.
- Oi – Respondeu William, seco e distante.
- Tudo bem com você? Parece preocupado.
- O doutor me disse seu diagnóstico. Você tem sífilis, que afetou parte de seu celebro, e você acabou perdendo os movimentos da perna.
- Sífilis?
- Isso mesmo.
- Augustine virou o resto para o outro lado, como se tivesse com vergonha, ou escondendo alguma emoção.
- E quanto a você? – perguntou preocupada.
- Eu estou bem, eu acho.

Nos últimos meses eles não se encontraram, a relação estava um tanto distante.

- Você tem algo para me dizer, Augustine?

Ao que Augustine ficou calada.

- Depois de tantos anos, pensei que nosso amor...
- Não tenho nada a te dizer – Interrompeu – Nosso amor não tem nada haver com isso.
- Tenho motivos para achar que está mentindo – Foi enfático, porém não incisivo – Diga-me a verdade, não te deixarei nesse momento difícil, afinal de contas, somos sozinhos, e quem sabe o amor supere mesmo qualquer coisa.
- Nosso amor não tem nada haver com isso – Disse reflexiva – E quanto a você, William? O que me diz?
- Esconder também pode ser chamado mentira? Eu não te escondo nada, apesar de já ter mentido, como qualquer outro, como quando fiquei no bar com os amigos ao invés de estar na biblioteca, mas eu nunca...
- Eu sei – Augustine interrompeu mais uma vez – Eu sei que não. E também sei que você estava no bar naquele dia. Preciso descansar –

Augustine dormiu, como se na piscada dos olhos, uma cola não permitisse que se abrisse novamente.

O doutor voltou para coletar o sangue, e disse que dentro de dois dias teria o resultados. Decidiu fazer o exame em William também.

- Em dois dias teremos os resultados– disse o doutor.

Augustine não estava mais sedada, o tratamento surtira efeito no sangue, o que a fazia estar melhor.

- Você mentiu muitas vezes pra mim?  - Perguntou William, com calma quase mórbida.
- Eu te amo, e não existiria sem seu amor, e hoje te amo mais do que quando nos casamos, e nunca deixei de te amar mais a cada dia desde que te conheço – Augustine disse com os olhos lacrimejantes – E quanto a você?
- Em você realizo minha existência, não consigo pensar...
- Pode parar - Interrompeu mais uma vez.
- Você nunca me deixa falar. – Disse William.

Em seguida disse Augustine, calma e confiante.
- Já conheço todas suas palavras, te ouvi por mais de 15 anos, e nunca me enjoei. Sabemos que nesses últimos dois anos brigamos algumas vezes, posso ter parecido distante, eu sei, mas, de que valem as mentiras do passado, se o amor é a única resposta? A única verdade?
- Mentiras não só ferem, são motivos e tem sentido – Disse William.
- Você está errado, a mentira pode ser uma medida de escape, ou uma maneira de quem conta proteger quem ama.
- Não diga que estou errado, de mentira já me basta a verdade. Eu nunca te traí!
- Eu...

O doutor entrou na sala, sempre sério, com duas folhas na mão, e com o olhar penetrante em direção a William.

- Tenho duas noticias, mas não sei dizer exatamente se são boas ou ruins, de todo modo, meu papel é anunciá-las. Primeiro, William, você não está contaminado. Em segundo lugar, sinto-lhes dizer que os movimentos de Augustine não podem ser recuperados, o que podemos fazer é tratar a doença para que não se espalhe, e tentar diminuir os efeitos do tratamento.

Claro que não era essa a noticia que William esperava. Saber que não estava contaminado respondia parte do problema, mas poderia afirmar algo muito desagradável.

O doutor estava saindo da sala quando William o segurou pelo braço.

- Mas doutor, e quanto a Augustine?
- Parece ser congênito. Não detectamos sinais de relações sexuais recentes. A paralisia não afetou os órgãos genitais e internos, somente a musculatura das pernas, sugiro que não deixe mais a sua mulher tão atoa.

- Eu também, nunca te traí – Disse Augustine.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Estrelas.

- Amar às vezes pode ser um erro.
- Quando?
- Imagine as estrelas, elas estão separadas, e o universo em expansão, o amor se torna burro quando as estrelas se aproximam e se chocam, e criam outra estrela, ou talvez, não sei, uma constelação.
- E o que faz dessas estrelas burras?
- O universo está em expansão, mas essas estrelas não resistem à vontade de estar perto, se aproximam, e só isso faz sentido pra elas, estar perto, talvez isso seja um problema para o universo.
- Então o amor é burro quando quer estar perto?
- Não assim tão simples. O amor é burro quando não sabe estar longe, mas isso não é uma culpa, é simplesmente o amor, e às vezes pode ser burro, às vezes ele é burro, pois ama, e só isso faz sentido para ele.
- Então o amor é burro quando só ele é o sentido?
- Quase isso. Ele é imbecil quando, além de ser a única coisa que faz sentido, não nega a atração, que o leva ao desejo de unir-se, o que é uma propriedade. Porém, isso se dá quando esse sentimento é único, suficiente. A paixão não é burra, desde que não minta sobre ser fútil, porém, o amor sincero pode ser a coisa mais imbecil do ser humano.
- O que fazer desse coração?
- Quando dois corações são compartilhados, como a estrela que não resiste ao amor, ou ele se realiza, ou sofre ao ponto de morrer, mesmo que viva, talvez não mais brilhe, pode virar paixão, e logo fugaz. Mas na bem da verdade, ela estrela depois que morre, talvez nunca mais ame, e certamente, a paixão não mais existe.
- O que fazer?
- Mesmo depois de morta, as estrelas nos presenteiam com seu brilho.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Tristeza do homem

Você consegue acreditar em um monte de coisas
Coisas sem sentido
Mas não na única coisa que da sentido
Fomos feitos para viver sentido
Mas tem algo que a esse nos leva
fugimos disso, não acreditamos
Isso é muito triste


Muito triste, isso
O ódio e a morte se encontram
Onde o belo se transforma em prazer
E o amor em paz e certeza


Tudo que o homem precisa pra viver
E dá sentido pra viver
Ele não acredita mais


O ódio e a morte se encontram
Onde o belo se transforma em prazer
E o amor em paz e certeza


Em que agonia se encontra a existência
Deixamos de acreditar no amor


O ódio e a morte se encontram
Onde o belo se transforma em prazer
E o amor em paz e certeza

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Capítulo XIII - My One And Only Love



            Essa era a canção que se ouvia. Havia um belo jantar sobre a mesa. Ainda saía fumaça do arroz, leve e solto. Não tinha feijão, mas uma leve salada com alface, tomate a um bom azeite para temperar, puro e simples. A carne estava ao ponto, o tempero era levado a um leve toque de alho com pimenta e molho madeira, tudo muito experimental. Sobre a mesa tinha duas taças de vinho, de uvas Tannat, a preferida de Frank. Ouvia-se o som suave do piano de Art Tatum, acompanhado do timbre melódico e saudoso de Bem Webster, quando todo o belo parece envolver tudo que existe, e o ser não mais importa. Seus pés estavam juntos, movendo-se na balada do som jazzístico que não poderia ser mais conveniente, Frank se sentia, talvez, feliz, mas não saberia dizer, era tudo muito, digamos, novo para ele. Parecia que seu amor fazia sentido, e Frank se sentia compreendido, parece que tudo que ele sempre falou sobre o belo fazia sentido, ele ainda não acreditava no que sentia, e seus olhos ficavam embaçados, ao som do amor exalado por Webster em “Where or When”. 
            O calor do corpo é algo que sempre fez sentido para Frank, o belo sustentava todo o caos que havia em sua cabeça, e o cheiro que sentia inundava sua imaginação de paixão e ternura, a vida até parecia ser boa.
- Que momento é esse? – Se perguntou Frank, em sua mente confusa, mas de tão apaixonado, não buscou respostas, queria apenas sentir aquele cheiro, o hálito, ainda do vinho tomado, e a leve tontura, o deixava consideravelmente confortável, ao ponto de se levar pelo som que ouvia. Dançavam levemente, sem falar nada, talve sem pensar, apenas indo ao ritmo, sentindo, experenciando o amor, a vida, um momento, talvez único, inexistente. “My Ideal”, ouvia e pensava:
- O amor é a única coisa que importa, a única justificativa para o sofrimento é a união de um homem e uma mulher que se amam, e isso não deve fazer sentido. - pensou Frank.
– O amor não deve ser explicado, não deve fazer sentido, não deve ser buscado, nem mesmo deve-se falar sobre ele o tempo todo, mas acima de tudo, deve ser experimentado livremente, sem culpa, sem medo, sem resposta, sem nada, somente som e gosto, sensação, o amor é a pura essência humana, a falta total de sentido, e a única coisa que importa.
            Ao ritmo da sincope, seus pés ainda balançavam pra lá e pra cá, seus corpos estavam unidos, os braços se acariciavam suavemente, seus rostos não estavam unidos, se encontravam cada um no pescoço do outro, e em suas leves respirações os odores se misturavam, e não mais se sabia o nome da fragrância, era tudo tão puro que não se esperava nada do segundo seguinte, apenas que o atual nunca acabasse. Frank estava repleto, exaurido, cheio de tudo que se pode dizer amor, e ele sabia, estava certo, tinha certeza, que sua companheira sentia o mesmo, e não era necessário dizer nada.
            Quando menos esperava, Frank acordou, olhou para os lados, e chorou.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Capitulo XII - Estações

            Fazia já algum tempo que Frank vivia na cidade. Saiu de sua terra com o ímpeto e o desprazer da incerteza. Na verdade não havia um propósito profundo, ele não buscava mais a razão da existência, ou viver algum plano; algo que de fato era muito novo na cabeça de nosso herói. Existem somente duas verdades no mundo, dizia Frank, o amor e o sofrimento.
            Enquanto incerto Frank tinha muita força; pensando melhor, ele não tinha força, mas no final das contas ele conseguia caminhar, por isso dizem que só sabemos do que somos capazes quando não podemos fazer mais nada. O problema talvez seja que, quando sabemos, ou parece a solução de algum problema, a força vá embora junto com a vontade de andar.

- Olá caro amigo, quanto tempo que não o vejo. Soube que se meteu em uma grande aventura, e que no final das contas, deu certo.
- Não sei te dizer se deu certo, ou mesmo se foi uma aventura, até mesmo nem acabou ainda, afinal de contas, estou vivo. Devemos observar muito bem as coisas enquanto acontecem, porque depois de realizadas elas perdem totalmente o sentido.
- Frank, você ainda não começou a tomar remédios para resolver esse seu problema?
- A vida é uma doença sem cura, assim como o amor e o sofrimento, se nos curamos morreremos, pois é tudo que nos compõem.

            Algumas semanas atrás Frank sentia muito sono, talvez por querer fugir da realidade, ou apressar um tempo que esperava chegar logo. Mas após receber boas repostas e ver que as coisas pareciam estar dando certo ele voltou a ter dificuldades de dormir, e o motivo ainda não sabia. Talvez esse fosse o problema.

- Final de ano é uma época feliz, não é mesmo Frank?
- Não me chateie, Érico.
- Realmente, desculpe, acabo de me lembrar que você costumava se queixar de sentir-se muito mal todo final de ano. Você ainda tem isso?
- Até hoje somente uma vez isso não aconteceu, e foi o suficiente para esquecer todos os sofrimentos passados, mas logo a vida retoma o ciclo, e tudo se repete novamente. Eu não sei caro amigo, sou jovem e ainda não tenho muito que dizer, a não ser duvidas, por isso desistir de ter respostas pode ser a grave doença que me afeta. Há bem da verdade meu espírito está cansado, mas cansado de caminhar ainda sem sentido, e de fato é difícil criar os meus próprios, requer muito tempo, e a modernidade não nos dá este capricho.
- Entendo o que você diz; Esperança é tentar camarada, com você aprendi isso, mas talvez você tenha esquecido que todo caminho tem um endereço, mesmo que criado pelos homens.
- Nunca neguei tal fato, tão pouco desconsiderei que todo caminho leva a alguma condição, e tentar não justifica o cansaço. Porém, em cada estação as arvores nos apresentam uma arte distinta. Não me parece inteligente sempre escolher o caminho determinado que floresça o verão. O mundo gira e nos oferece quatro estações, devemos passar por elas, e para conhecer bem o mundo, talvez andar um caminho por vez, e ver que frutos o chão nos oferece.

            A morte, o sentido, o caminho, os frutos, as arvores, tudo voltava de forma bagunçada em sua cabeça, e Frank de fato se questionava a respeito da utilidade das estações.

 - Nietzsche procurava lugares específicos para passar determinadas estações do ano, eu acho que isso o limitou; melhor fez Helmholtz ao preferir uma ilha chuvosa. O problema é que não sei ainda nem a minha estação, tão pouco minha terra. Mas também acredito que isso faça parte da caminhada. Já andei por alguns lugares, tenho vontade de voltar e buscar algo proveitoso que talvez tenha deixado no caminho. Assim talvez me lembre de algo importante. Isso! Talvez eu devesse voltar e visitar lugares por onde andei e lembrar o que pensava me recordar, pois como disse, as cosias fazem sentido enquanto acontecem, depois perdem totalmente sua real significância. Meu problema talvez seja que o presente não se realiza em meu espírito.
- Vamos caminhando, camarada.
- Sim. Boa noite Érico, mande um abraço para Atychía.

            Érico riu da piada de seu amigo. Se cumprimentaram e Frank saiu de dentro do café. O dia estava quente, era verão, e mais um final de ano se realizava. 

sábado, 1 de outubro de 2011

Porque Deus não resolve os problemas do mundo?



            Um clássico da literatura pode causar um efeito estético bastante interessante, por isso acredito no perceptismo causado pela arte do gênio, mas para isso devemos ser sinceros às nossas inquietações, e não buscar a verdade, e sim nossas afinidades. Foi o que aconteceu como fruto da leitura e discussão do maravilhoso romance "Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley.
           Imagina um mundo perfeito, que extinguiu os conflitos da humanidade, a infelicidade, a morte, a dor do nascimento, a dor do sofrimento, a traição, os conflitos, a insegurança, a violência, e tudo que pode ser considerado ruim no ser humano, e por sua vez, motivo de tudo que temos de ruim no mundo. Huxley nos mostra de forma maravilhosa o resultado dessa busca, a mais importante busca humana, ou assim considerada, a felicidade. Imagine um mundo feliz, imagine seus problemas resolvidos, ou não ter problemas para resolver. Pode ser um sonho, mas a leitura desse romance nos sugere que talvez não seja assim, não direi por que, para que fique sugerida a leitura.
                Mas afinal de contas, porque Deus não concerta o mundo? Pela primeira vez em algum tempo me proponho a pensar alguma resposta, e só faço isso pois tive afinidade com a percepção que tive, e pode ser que alguém mais tenha, e talvez sugira até soluções, possivelmente temporárias, mas profundas. Certamente não inventei ou descobri por revelação o que vou sugerir, mas a idéia de voltar aos clássicos é justamente essa, não criar respostas, mas confiar que talvez ela já exista, ou pelo menos exista algo que satisfaça alguma necessidade humana, mesmo que não por muito tempo. A pergunta que fiz no título desse texto é uma inquietação que todo ser humano tem, tanto os que acreditam em Deus, em suas diversas formas de fé, tanto quanto os que não acreditam, e esse pode ser justamente uma pergunta eu leve as pessoas à descrença. “Resolvi” esse problema nessa sexta feira dia 30 no LabHum (Laboratório de Humanidades do Centro de História e Filosofia da Saúde da UNIFESP) onde faço mestrado. Digo também que foi perceptivamente, porque não era o assunto, mas em minha mente, diante das questões aparecidas que não vão ser discutidas agora, ma trata-se, assim, de um efeito estético de leitura compartilhado com as impressões e sugestões dos diversos participantes do grupo
                A junção de todas minhas inquietações desses últimos dois anos a leituras que tenho feito, conversas que tenho tido, relações que tenho desenvolvido e também entrado em conflito em razão de minhas inquietações, tudo contribuiu para pensar, e continuará assim, e continuarei a buscar, e mudar de idéia sempre que necessário, para diante dos conflitos, crescer.
            Enfim, Deus não resolve os problemas do mundo para preservar nossa humanidade. Um mundo sem problemas seria como o “Admirável Mundo Novo" e Deus nos fez para sermos o que somos, humanos. Ser humano significa ter todas as características apontadas no inicio desse texto, logo, assim como no admirável mundo novo, a solução dos problemas resultou em desumanização, e por fim, em outros problemas. Os avanços tecnológicos nos mostram isso. Hoje temos estradas para chegar mais rápido em nossos destinos, mas temos engarrafamentos, temos metrô, mas eles lotam, temos médicos e novas doenças, temos avanços e eles resultam em outros problemas, ou seja, o ser humano é problemático, e talvez isso não seja um problema, talvez seja somente o que somos. Assim, Deus não concerta o mundo para preservar o que somos, ou deveríamos ser, humanos. A sua criação espontânea e amorosa, que nos fez livres, causou automaticamente nessa caracteriza, as desventuras compõem o mundo. Buscar solucionar o mundo, ou esperar isso, não é um caminho, ou seja; Jesus não representa o desejo de Deus de concertar o mundo, mas o exemplo de como os homens devem viver isso juntos, mesmo diante das diferenças e problemas que compõem, também, a criação. Obviamente essa concepção, se levada a fundo resultara na relativização de algumas crenças, que a meu ver, são prejudiciais, como a de que existe um único caminho para andar com Deus, pois isso negaria toda a diversidade que compõe o mundo, mas esse não é o nosso assunto agora, apesar de ser diretamente ligado. Essa concepção sugere que devemos desistir da necessidade de estar certo, para que possamos de fato, caminhar juntos.
            O reino de Deus na terra não é um mundo sem problemas, onde todo mundo é feliz; o reino de Deus na terra é enfrentarmos juntos o problema que é viver. Jesus representa o reino de Deus na terra, ou seja, se Deus está conosco, e negou a si mesmo para isso, e como é sugerido pela bíblia, devemos negar a nós mesmos pelos outros, entendo que essa leitura pode sugerir que devemos negar, também, a necessidade de estar certo, de descobrir a única verdade, ou de afirmar que temos a única revelação, devemos desistir de esperar que os outros concordem conosco, o que nos leva enfim, a não pensar mais que o “ímpio” vai para o inferno, pois se o reino de Deus está na terra, e Ele andou conosco, está conosco, devemos ser também reino de Deus, ou seja, estar junto dos outros, e isso humaniza. Logo, o reino de Deus não é a perfeição, ou a solução dos problemas do mundo, é solidariedade, caminhar junto, é amor, e essa é a beleza do cristianismo, isso é lindo, é preciso viver o amor, e esse deve ser o nosso maior desafio, criar verdade só complica, dificulta, piora. Assim, diante disso tudo só há uma verdade, a única verdade absoluta, o amor! Mas qual amor? Qual significado de amor? Todos!
            A leitura do romance “Admirável Mundo Novo” me ajudou a pensar sobre esse velho problema. Por que Deus não muda tudo? Por que o mundo é uma merda? Porque ele foi feito pra ser assim! Por quê? Isso não torna Deus culpado? Não! A criação foi livre e amorosa, por isso precisamos de amor e liberdade para criar e conseguir viver. Amor e liberdade são problemas, mas que se completam, porque o amor livre levado as ultima conseqüências nos indica a negação da vontade, e por isso Deus nega sua vontade, seu poder. Assim Jesus mostra que a verdadeira liberdade do amor está na negação de si mesmo, Deus colocou em sua criação liberdade e amor e nos ensinou na pratica a ser livre em amor. Ou seja, ele faz, coloca em nós o fazer e nos mostra como fazer. O mundo nunca será "perfeito", não fomos feitos pra isso. O mundo é isso mesmo que vemos, sempre foi e sempre será. O que precisamos é amar livremente, o que nos leva a negação de nós mesmos, e assim juntos, agüentar viver. Esse é o belo, que carrega consigo a agonia, o sofrimento, a alegria, e tudo que é humano. A resposta é que não há resposta, a não ser o amor, e mais nada. Negação de si, olhar para o outro, andar junto, sem querer estar certo.
            Essa teologia do Reino de Deus na terra, de concertar o mundo, um mundo perfeito etc, que sempre me inquietou, não é um bom caminho, pois pode resultar em um admirável mundo novo. O problema não é mais concertar o mundo, é conviver com as diferenças, é lutar por dignidade, justiça, amor e liberdade, é negar interesses, vontades, paixões, verdades, é colocar o outro antes de si mesmo. E como disse, não é necessário criar verdade, ou descobrir coisas, os clássicos nos apontam caminhos, talvez o caminho seja ser o que somos, humanos. O nosso problema é reencontrar a nossa humanidade.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

O Coração do Homem

Quantas vezes um homem pode chorar em um mês?
Quantos passos lentos deve dar em uma semana?
Como deve ser o procedimento de sua nostalgia?
Pode o homem ser, porém, acabar em si?
Dói seu coração, sua respiração não da conta de seus sentimentos.
Pode o homem amar completamente e se saciar em alguma outra coisa?
Nada completa um homem que o próprio ser ele não ama.
Conspira contra ele seus atos, e seus pensamentos o condena!
Pode ainda ser o homem que constrói e destrói a si mesmo?
Suas emoções são fracas, e seu organismo se retrai diante do tudo.
O homem que ama não pode fazer nada além de sofrer.
Pois não consegue esconder seu rosto diante da dor alheia.
Pode ser feliz um homem que vê?
Suas paixões nada significam diante do brilho das lagrimas desconhecidas.
O ser do homem que ama suspira pelo desconhecido, que nem mesmo sua imaginação cogita.
Pode ser o homem que ama? Quando tudo que ele espera é que nada seja?
Pois, se tirar do mundo a dor e o sofrimento, o que resta?
Dói o coração do homem que ama, pois não ignora o que está à sua volta.
Obscuro e misterioso é o coração do homem que chora, pois seus olhos não ignoram o que está a sua volta.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Capítulo XI - Palavras no Caminho

    A noite fala comigo o que não falam todas as pessoas enquanto brilha o dia. Já algum tempo aqui sozinho, continuo me encontrando comigo mesmo, e claro, nunca completo. Foi-se o tempo em que as coisas diziam alguma coisa, e depois de tanto tempo, parece que inutilmente pensei isso, pois não diziam nada de verdadeiro, apesar de certamente, terem sido importante para minha constante formação.
    Continuando à noite, quando o barulho não é bem vindo, eu não posso tocar o violão ou escutar uma boa música, sem incomodar meus inoportunos companheiros; e mesmo que fosse possível ouvir uma bela canção em segredo, o que desventuradamente não o é mais, eu não o faria, pois meus ouvidos ainda estão cansados.
    O que uma palavra significa, ou pode significar, na verdade não diz nada quando em solidão você não se lembra de algum momento em que ela esteve presente. Nesse sentido, a ausência de pessoas me traz muitas palavras. É comum dizer que você pode estar sozinho mesmo no meio de uma multidão, isso apesar de verdadeiro, não é mais importante, pois as pessoas nunca saem de perto quando deixam com você alguma palavra, e com isso, todo tipo de gente ainda está comigo, mesmo aqueles que hoje me odeiam, ou não pensam mais em mim, e se pensam, com menosprezo, rancor, ou seja lá o que for. Gostaria de dizer que toda palavra fica guardada em um local, e só volta a noite, quando não existe mais ódio, apenas o puro sentimento humano da melancolia e desventura.
    Pensar sobre todo o ser, e que já se foi, relembrar, saudar-se, desnudar-se do hoje, é encontrar a si mesmo no mais puro intimo esconderijo do seu ser, e ter vergonha de si mesmo quando lembra de algo que mais ninguém sabe, rir diante do que todos sabem hoje, sendo verdade ou não; afinal de contas, o verdadeiro e o falso são amigos que se divertem e apostam vendo agente brigar, só eles ganham com isso.
    Enfim, como sempre, agoniado está meu coração, na presença de tantas palavras e pensamentos, com a ausência de certezas que me abandonaram, e na presença de dúvidas que tento ignorar, pelo menos por enquanto. Ainda ameaçado pela incerteza que nunca me abandonou, apesar de já ter tido sonhos mais seguros, ainda comigo mesmo está o verbo, seja lá o que for que ele signifique.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Capítulo X - Ainda Caminhando

     Enquanto caminhava pela rua, correndo, subindo e descendo escadas, atravessando ruas e passando entre as pessoas, dentro e fora do transporte coletivo, segurando desajeitadamente sua caneta e um velho e amassado punhado de papel que compunha um estapafúrdio bloco de notas, Frank escrevia para o seu ainda amigo:

Não espero seu favor; penso, não seria justo.
Agrada-me sua companhia. Nada deve privar-me da presença do meu companheiro.
Não espero que me mostre o caminho, ou que esteja à frente dele, mas não me prive de ouvir de perto sua respiração, também esbaforida pelo cansaço em razão da árdua caminhada.
Não peço que me pegue pela mão, mas é fundamental sentir seu toque.
Cante comigo, mesmo que apenas suspirando, mas não me prive de ouvir sua canção, cansada e agonizada de amor.
Espero nada mais, mas pouco além, que esteja comigo.
Estenda comigo a mão que nada tem a oferecer.
Trilhe comigo os caminhos, mesmo que não os possa conhecer.
Enfim, caro amigo, permaneça suave e presente.
Procurarei lembrar-me do som de seus passos quando pensar que está ausente.
Caro amigo encantador, seu amor é uma canção incrível.
E como não poderia deixar de ser, isso lhe escrevo por todos, pois somos cansados.
Pretendamos permanecer sensíveis, para perceber no vento, ainda, sua respiração.

sábado, 6 de agosto de 2011

Do Sol

Hoje acredito que o mesmo Sol ilumina a todos. Porém, a percepção desse calor é relativa a cada um, depende de suas historias e valores em geral.

Alguns sentem febre, e o calor se torna frio, alguns ficam na sombra vislumbrando, de dentro, o brilho do Sol. Outros ainda dizem que o sol não existe, e chama o calor e a luz de sorte.

A capacidade de criar sentido e a necessidade de estar certo nos faze, muitas vezes, acreditar entender e saber o significado do Sol

A busca pela felicidade nos deixa cegos diante de um vislumbre egoísta da luz, onde o brilho intenso só é dissipado quando olhamos para nós mesmos. Precisamos cobrir os olhos.

Os desejos pessoais nos levam a supervalorizar o calor que sentimos, ignorando o frio de quem tem febre, ou está na sombra.

Porém, algo me parece elementar. O Sol nunca sai de seu lugar, e brilha até mesmo sobre a caverna de quem tenta se esconder de sua luz. O sol continua iluminando e aquecendo o que sente febre, mesmo que esse o perceba como frio, em razão de alguma enfermidade, sua inflamação, a vida.

Diante disso tudo devemos considerar uma necessidade e muitos medos. A necessidade de voltar para o Sol, sem precisar definir seus valores, o grau de seu calor e a força de sua luz. Apenas vislumbrar seu brilho e seguir o caminho, ele qual seja, motivado pelo seu esplendor, tornando-o significativo e evidente, criando influenciado pelo seu puro criar constante e livre, procurado confortar o fardo que vem do próprio fato de existir.

Tenho medo de achar que entendi o Sol, e supervalorizar meus sentidos criados, a percepção que tive do calor, e a cor que imputei à luz. Tenho medo de criar, ou usar o criado, para esconder o Sol de quem o vislumbra, seja lá como for, e mesmo os que se escondem dele. Seu calor continua a aquece as pedras que formam as cavernas, e isso gera água que alivia a sede de quem sente calor, por estar abafado dentro de seu esconderijo.

Atormenta-me uma busca onde a luz do Sol confunda e torne cega a minha visão ao ponto de não mais ver o outro, e fique tão quente a ponto de não sentir o calor de quem está ao meu redor.

Por fim, me preocupa querer tanto ao Sol e não querer quem anda comigo. Achar sentir tanto o calor do Sol e não procurar se aquecer com quem anda escondido. Buscar tanto a luz e confundir minha visão.

O mesmo Sol brilha para e sobre todos. Negando a necessidade a vontade e a busca poderiamos, talvez, vislumbrar com mais pureza e comunhão a diversidade do verde nas arvores do caminho.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Capitulo IX: O Inútil

- Você tem uma coisa que ninguém que eu conheço tem.
De modo sarcástico sério e irônico ao mesmo tempo, não sabendo o que estava por vir, Frank perguntou:
- Você conhece muita gente?
Ainda levando sua prosa a sério, sua então colega de trabalho respondeu secamente, como se isso não importasse:
- Não.
E continuou com seu estranho comentário:
- Você tem uma coisa que ninguém que eu conheço tem. Você é sincero o tempo todo, pelo menos é o que você me passa, é o que me parece.
Frank poderia se sentir bem com aquele comentário, poderia, talvez, se gabar de alguma forma, por talvez ser isso uma boa coisa em seu caráter, mas na verdade ele se sentiu, de alguma maneira, algo que poderíamos definir como culpado, pois ele não achava muita utilidade em sua constante sinceridade, nem mesmo achava que ela fazia bem a alguém, mas mesmo assim ele perguntou:
- Você acha mesmo? E você acha isso bom?
- Sim, é muito raro, e eu não tenho medo da verdade
Entendendo o que sua amiga disse, Frank comentou:
- Gente que não tem medo da verdade também é rara.
A conversa continuou por caminhos de menor importância. E apesar de seu sorriso falso e descontraído, que não conseguia enganar nem mesmo sua colega, que o conhecia minimamente, Frank se sentia, no fundo, muito incomodado com aquele comentário, e pensou na verdadeira utilidade de tua sinceridade.
Algo já vinha incomodando Frank em uma conversa anterior. E pensou:
- Um homem sem esperança, talvez não deva falar nada. De que servem idéias que não faz alguém se sentir melhor? Mesmo que a esperança, talvez, seja uma mentira, de que serve ir contra ela, se a mesma causa algum bem?
Uma melancolia terrível tomou conta de Frank, e tal ponto dele pouco perceber o que estava a sua volta, e como de costume ele penetrou em si mesmo e sofreu. Suas divagações o levaram a lugares obscuros em seu próprio ser.
- Um homem sem esperança não tem nenhuma utilidade. Este deve, já que vivo, esconder-se do mundo e não o contaminar com seu câncer, pois o mundo de mais sofrimento não precisa. O homem que não tem esperança deve se isolar do mundo, escondido e longe de todos escrever seus motivos, dedicá-los a uma pessoa de maior confiança, com uma carta de despedida. Melhor é o sofrimento de sua ausência, sentido pelos que o amam, que o sofrimento causado pela sua presença, que contamina e desanima qualquer espírito.
Alguns podem dizer ou pesar que a esperança é uma escolha, Frank acreditava que a esperança era apenas continuar. Ter esperança era apenas tentar, não tinha haver com resultados, fins ou motivos, mas apenas o ímpeto que o levava a tentar, talvez somente por necessidade, mesmo que não fosse, para ele, necessário viver.
Frank estava completamente convicto de seu destino solitário, certamente não porque queria, mas ele se sentia mais um incompatível, mas um daqueles que não tem lugar, e o motivo era sua falta de esperança, que o tornara, em sua atual concepção, completamente inútil para o mundo.

Eu só sei que não me sinto bem
Eu só sei que não me sinto bem
Mas a força, eu não sei de onde vem

Essa força eu não sei de onde vem
Essa força eu não sei de onde vem
Mas sei que mentir pra si mesmo não faz bem

Sem esperança é possível fazer o bem?
Sem esperança é possível fazer o bem?
Eu não sei de onde essa força vem

O homem sem esperança pode ter forças para lutar
O homem sem esperança pode ter forças para lutar
Mas não se sabe quem, com ele, poderá caminhar

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Meu Amigo Blues

Ande comigo hoje, Amigo
Não consigo andar na rua escura sozinho
Me da sua mão, entre e saia dos buracos comigo

Olhe ao mesmo tempo para a luz comigo, grande amigo
Olhe ao mesmo tempo para a luz comigo, grande amigo
Estejamos juntos quando o sol nascer

Com seu conselho, compartilho da sua sabedoria, grande mestre
Não devemos ficar ansiosos por coisa alguma.
Pois para cada um, basta a cada dia o seu mal.

(Prometo, um dia, postar um vídeo tocando esse meu Blues.)


Bom gente, desculpem pela má qualidade do vídeo...mas sou pobre e usei minha webcam velha pra fazer...e também levem em conta que eu não sou cantor...kkk

terça-feira, 19 de julho de 2011

Capitulo VIII - Pretérito

- Sim, hoje me sinto livre e não acusado por duvidar e criar sentidos, mas certamente sinto falta de muitas coisas.
- Como assim?
- É próprio do passado nos lembrar quem fomos, e assim, no processo de formação essa lembrança nos faz ter uma raiz que nos diz de onde viemos. Estando atento a isso não nos perderemos.
- Mas nada faz sentido pra você.
- Sim, mas lembro do sentido que já fez
- E de que isso importa?
- Não devemos fingir nunca ter sido, mesmo que neguemos aquilo que fomos.
- Então você sente falta...
- Certamente! Momentos, pessoas, medos, superações, aprendizados. Sinto falta até mesmo do sentido que tinha para as coisas. Porém, caro amigo, a vida é superação e sofrimento,e Deus foi inteligente em nos dar a memória, pois as coisas boas nos fortalecem com esperança, e as ruins nos ensinam, também por isso quem mais sofre, mais sabe.
- E qual é a razão de sua nostalgia?
- Tenho buscado esperança, pois sofrimento e aprendizado já tenho tido em demasia.
- Não consigo, ainda, ver alguma sabedoria em seu pensamento.
- Pense meu caro. Não criamos sentido partindo de algo que nunca foi, pois certamente nada pode vir sem que nada existisse antes. Todo novo tem em si seu antecessor. Sendo assim, eu sou agora, também, o que fui. Em completa essência, o que mudam são os significados, e isso sempre acontece, ou deveria. O que torna isso desconfortável, muitas vezes, é o que perdemos pelo caminho, principalmente as pessoas.
- Temos a memória
- Essa, nesse sentido, muitas vezes pode fazer sofrer.
- E a superação?
- Estou em tempo de criar novos sentidos.
- O que você quer dizer com isso?
- Dialética, meu velho amigo. Lembrar-me de quem fui, refletir sobre o que sou hoje e transformar-me em mim mesmo novamente.
- Vai mudar de idéia mais uma vez?
- Não. Está chegando o esperado momento de dar novos significados à idéias que já tive, com base em um processo de reflexão de diálogos entre tudo que tenho conhecido e experimentado. O antigo deve voltar para que o novo se forme e seja forte, maduro, para depois formar algo ainda mais sólido.
- E o que ficou para trás?
- Nada ficou! Tudo tem nova cara, e o que é negado também tem sua função de antítese. A essência nunca muda, ela se forma, se constrói, é formada de coisas essenciais, e seus significados são fermento. Enfim, está chegando o momento.
- Que venha!
- Que venha!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Desventurado Amor

O amor não se conteve.
O amor foi compartilhado.
A necessidade de o compartilhar gerou a vida.
Sedentos por compartilhar, não os coube a capacidade de pensar nos resultados, a vontade de compartilhar o amor tem frutos que o tamanho de sua beleza também se revela em horror.
O fulgor de suas paixões, em momentos exultantes irresponsavelmente comprometeu o tempo, pois ainda não havia futuro.
Quanta necessidade! Quão trágico foi, o amor compartilhado gerando a vida.
- E agora? O que faremos? nosso fruto, nossa imagem e semelhança, fruto de nosso fulgor e calor, ó quão assustador, no memento de carne quente se tocando, os pensamentos egoístas não dão o direito do ser não ser. E agora? O que faremos?
- Oh! Quão amedrontador é nosso destino! O resultado de nosso amor pelo que vejo sofrimento gerou, Oh o que faremos, pois, vejo que nosso amor gerirá ódio e rancor, pois não demos o direito do ser querer ser, o nosso amor gerou dor!
- Amaremos ainda mais!
- Quanta sabedoria amado meu, o faremos livre, por completo livre, ao ponto de que não reconheça, se o não quiser, a sua paternidade, e não o acusaremos por isso. Amá-lo-emos mesmo sem saber que o amamos, mas se ele nos amar a aceitar o nosso erro, Oh quão feliz seriamos!
- Sim, Daremos a ele nosso amor, sofrermos com ele pelo nosso erro, por nosso ardente amor sofrermos. E com ele, nosso amado, procuraremos ser o mínimo possível, para que nosso amor seja o maior.
- Oh amado meu, mas como viverá o fruto de nosso amor? Estará sozinho no vazio, será solitário entre os diferentes. Não será compreendido, e amado não se sentirá, mesmo que o amemos tanto.
- Sim, não podemos matá-lo, pois o amamos, daremos a ele irmãos. Irmão que se amem, e sejam igualmente livres, livres para amar, livres para ser, e para não o ser também, e não os culparemos nunca!
- Oh desejado da minha alma, mas sendo livre ele se corromperá! Sendo livre poderá não amar! Com faremos, pois se o nosso amor não lhes bastar? Se o não desejar, se rejeitar nosso egoísmo, pois não e demos a oportunidade de não ser, e nosso amor não permite que o matemos. Como faremos?
- Sim, para os que nos amam, e aceitam o nosso equivoco de fazer ser, seremos com ele
- E para os que não quiserem ser?
- Não seremos com ele! Se o desejo é a morte, por ele morreremos, morreremos com ele, para ele, por meio dele, nos fundimos, nos separamos, para que sejamos tudo e não sejamos nada, que o não ser seja pra ele o ser parecido também conosco, para que pertença também a nós, e nós estejamos nele!
- Oh amado, quanto amor temos por ele! Quanto sofrimento por amá-lo tanto, e entender seu sofrimento, sofreremos por ele então! Eu farei isso! Morrerei me entregarei, para que ele possa não ser não serei por ele, e ela será livre, pois o amamos tanto, e nunca o acusarmos!
- Quanto amor escuto em sua voz, quanto amor temos para com nosso ser feito do fruto de nosso calor, faremos agora, antes que ele torne-se consciente, morreremos então para que seja livre já ao nascer, e todos livre amaremos mesmo os diferentes. Os que aceitarem nosso equivoco será amado por nós, e o que não aceitar, o que desejar não ter nascido, não seremos por ele, e nossa eternidade será constantemente morte, para que ele saiba que com ele ainda estamos.
- Oh amado, saremos a ele ainda um presente, daremos a ele que tanto sofre o poder de também poder criar, para que se chegue a nós, mesmo que não o saiba que crie, e saiba quanto amor há em fazer o ser, mesmo que não o seja!
- Sim, daremos a arte, e o amor que sentimos ao criá-lo, ele sentira também ao criar, e sua arte será para nós reconhecimento de amor, mesmo que não queira amar, daremos a ele nossa arte!
- Quão grande é lindo é seu amor amado, me farei de seu filho, para que ele tenha essa arte, e seja livre, e nunca condenado!
- Sim, acho que conseguiremos reparar nosso erro.
- Sim, vamos amá-los e compreende-los sempre.
- Mas meu amado e agora meu pai, e quanto aos que se fizerem mal, e rejeitar nosso amor, e acima de tudo, rejeitar nosso pedido de perdão, rejeitar nossa morte, e serem assim ainda maus e perversos no mundo?
- Sim, daremos aos nossos filhos a justiça, nosso exemplo de justiça, sofreremos com as vitimas, tentaremos corrigir os transgressores, e que nossos filhos o façam com justiça, e quando a justiça deixar de ser justa sofreremos também.
- Poderemos intervir?
- Não sei, vamos descobrindo o que fazer. Afinal de contas, também não esperávamos por isso.
Como estamos nós? O que fazer com esse amor que nos é proposto? Não sei! Sejamos ou não sejamos! Somos pois uma coisa sim, todos iguais, e devemos também nos amar.

domingo, 10 de julho de 2011

Capitulo VII. O derrotado

      Frank, ouvindo aquela bela e preferida versão de body and soul, com Teddy Wilson Gene Krupa e Benny Goodman de 1935, andava pela avenida diferente do que de costume. Seus passos eram lentos, não parecia ter pressa de voltar para o que se dizia, ainda, seu lar. Há algum tempo não havia em seu espírito disposição para pensar e olhar à sua volta. Na verdade, ele ainda não tinha, ou tem, disposição como queria. Havia motivos específicos para sua melancolia naquele amanhecer.
      É algo terrível para um homem, digo, ser vivo, ter que ser mesmo não querendo, e não poder ter o que quer mesmo sendo justamente aquilo que acha ser necessário para não ser mais. Frank sentia em seu espírito que tentam tirar dele o que ele já não tem mais, e pareciam estar conseguindo. O ser humano é terrivelmente cruel quando acredita tanto em algo que se torna o maior idiota de todos, e certamente o ladrão parecia, para Frank, um grande idiota da pior grandeza. Nada pessoal, mas a arrogância do que crê estar certo pode sugar todo o vigor de um espírito que procura se esconder para ser vivo.
     8ª graus, era essa a temperatura marcada no termômetro da rua. Seu coração, apesar de batendo, parecia congelado, não pela falta de vida ou de ímpeto, como gostava de chamar, mas por ter sua criatividade castrada, seu amor e todo ímpeto puro, motivado pela mais limpa vontade, terrivelmente petrificada pelo gélido esbaforido da terrível vaidade do saber e querer estar certo, que corrompe e atrasa o desenvolvimento de todo o ser. Frank só queria poder não ser em paz, e poder não ser sem estar sozinho. 


sexta-feira, 17 de junho de 2011

Nihil

Sofrer, sofrer! É tudo que é.
Tudo que é para além da enganação.
Minta para si mesmo, e encontre seu entorpecente, a felicidade.
Espere de si mesmo e encontre um presente, a necessidade.
Espere do outro, e fuja do amor.
Sofrer, sofrer! É tudo que se têm quando se espera.
Esperar devemos, antes, se for o caso, de nós mesmos, e se ame.
Espere, e não queira nada, e ame o outro, sem necessitar alterar uma farpa.
Querer, querer! Ser, ser! Que veneno em minha alma.
Ser por que ter, ter que ser, não importa o valor da alma.
Tanto, tanto que se deve. Seria tal, mais fácil e necessário, não ser.
Agonia, agonia! Fugir de mim e ter que me encontrar perdido para outro.

O valor do amor

- Quanto vale o amor de um desafortunado?
- Vale muito, e quem pode pagar nunca o possui, não o detém, e nem o pode oferecer.
- E porque tão tolo é esse que não se sabe o que é?
- É tolo porque dele só temos o nome.
- E tantos significados para este nome, não temos?
- Sim.
- E o que fazemos com eles?
- Invente outro e continue errado.
- O amor é um erro!
- Sim meu caro, o único que vale a pena.
- Mas e o sofrimento?
- A única verdade!
- Então a única coisa que vale a pena é a que mais faz sofrer?
- E a única que pode trazer algum conforto.
- Então a manifestação da única verdade, a saber, o sofrimento, se completa na única coisa que pode trazer conforto?
- Sim, e também confronto.
- Como pode ser tão antagônico?
- Me diga meu amigo, quem foi o inepto que inventou a necessidade de se buscar somente coisas boas?
- Não o fazemos assim desde o inicio?
- Sim, desde que o demônio caiu do céu.
- E agora você acredita no diabo?
- E você ainda não entende minha poesia?
- Nada do que você diz tem sentido.
- Lhe digo o mesmo. Você pode ficar com o sentido criado por alguém ou criar o seu próprio.
- Você ainda com essa conversa.
- Lhe digo o mesmo.
- E o amor do desafortunado?
- Bate no ritmo da canção cega diante de olhos surdos, pois não podem mais perceber a beleza da canção que adentra seus ouvidos.
- E qual é o compasso desta canção?
- Como posso saber?
- Não é você o criador do perceptismo?
- Cego, surdo, pobre, louco e nú.
- Quanto sofrimento!
- Quanto amor.
- Pensas que Deus gosta disso?
- Como não gostaria? Aprendi sobre o sofrimento com o próprio.
- Então você acha que Deus é um infeliz?
- Feliz que não pode ser.
- Não vez toda coisa boa que há?
- Eu posso escolher ver as boas ou as ruins, mas se Deus vê tudo isso ao mesmo tempo, ou Ele é o maior dos deprimidos ou o maior dos loucos. Creio ser os dois, e se fosse o contrário disso, não sei se gostaria dEle.
- Louco és tu!
- Também aprendo com o mestre. Fico com o que é loucura para os homens.
- Você não é criador de mitos, é um criador de loucuras!
- Se trata da mesma coisa, e digo o mesmo para os que dizem serem descobridores da verdade. A diferença é que não espero estar certo.
- E você ainda com essa conversa!
- Lhe digo o mesmo.
- Paremos logo com isso, pois já me cansei.
- Eu a mais tempo que você.

domingo, 5 de junho de 2011

Capitulo VI: Desventuras de amor na cidade

- Olá Frank, como você ta hoje, cara?
- Normal meu velho...
- Como sempre, né?
- É esse o significado da palavra normal...
- Porra, você é chato pra caralho ein! kkk
- Fazer o que, é foda! kkk
- Ta bom cara, deixa isso pra lá! Mas me diz; em que você tem pensado esses dias?
- Putz cara, quando tenho tempo de pensar penso em não querer pensar mais, porém, o amor é um tema que tem freqüentado minhas idéias.
- Já falei pra você parar com esse lance de romantismo, pessimismo alemão e essa porra toda! Goethe não paga contas ,cara!
- Pelo menos ainda não, Érico. kkk
- Ta certo. Mas e o amor? Sei por que você tem pensado nisso...
- Acho que nisso você se engana. Eu não costumo separar as coisas. Toda experiência, todo assunto, faz parte de uma coisa só, a vida.
- Sei. Então do que você ta falando? Se é que diz algo.
- Ter algo a dizer não significa ter algo de interessante a ser ouvido. Talvez, Érico, eu não deveria é dizer mais nada.
- Mais então não teria graça, você me fez rir tanto!
- É... Eu sei Érico, as pessoas riem de tudo, mas Nietzsche já dizia que o homem é o animal que mais ri porque é o que mais sofre. E eu ainda digo mais; o homem é o único animal que ri, porque é o único realmente burro.
- Então fudeu ein, Frank!
- Pois é...
- E o amor? Alguém pessimista com você ama?
- Só responderei a essa pergunta idiota, Érico, porque você é meu amigo. Depois pensarei o porquê de você o ser, o que às vezes, pra mim, não faz nenhum sentido! kkk
 (Silencio)
- Pensei hoje sobre o amor de Som, e o como me sinto amado por Ele. O amor de Som é incrivelmente satisfatório e refrescante, pois sei que Ele ama a todos, e me sinto totalmente livre para dizer pra Ele que não gostei do que ele fez, ou seja, eu. O amor só é verdadeiramente livre quando você pode dizer exatamente aquilo que você pensa, e o primeiro a saber das coisas que penso é o Som, não porque Ele sabe de tudo, o que prefiro achar que não sabe, mas porque faço questão de dizer pra Ele “ Você não devia ter feito isso!”
- Você é um herege!
- Eu sou livre, camarada! E Som ama a liberdade, pois Ele é um livre criador, e cria tudo com liberdade, por isso a sua musica não tem limites, nem destino, é só improviso; e também por isso sai tanta merda!
- Sei...
- Então. Isso é o amor. O puro antagonismo.
- Como o amor pode ser antagônico?
- Pois te digo que é tudo, e a única coisa que ele é. Veja. O amor é simples, mas nunca devemos entendê-lo. O amor é completo, mas sempre falta algo. O amor é bom, mas sempre faz sofrer. Sempre amamos a pessoa certa, assim podemos dizer, mas sempre da algo errado. O amor é sempre tudo que queremos, e sempre tudo que não podemos ter. O amor é a pura liberdade, que te prende ao infinito, nos liberta, e nos torna escravos dele mesmo, por pura e redundante liberdade. Enfim, o amor é tudo que queremos, e sempre acabamos fugindo dele. Como a tristeza, que é a maior característica que temos, e lutamos contra ela inventando alegrias sem sentido. O amor é o completo falho, que completa seu próprio vazio. O amor é o remédio da loucura causada por ele mesmo, é o veneno e o antídoto. É a dialética, o antagonismo, o niilismo, a razão e a ignorância. O amor é o humano e o divino, a música e o silencio, tudo ao mesmo tempo. O amor é tudo, mas só é completo quando não é nada.
- Odeio conversar com você, Frank. Você faz eu me sentir mal, mas humano.
- Talvez o amor de Som por nós seja exatamente esse antagonismo, mas em nossa liberdade de improvisar em sua música, passamos a colocar harmonia onde não tem.
- Você ta dizendo que não existe sentido?
- Exatamente!
- Então devemos parar de tocar?
- Claro que não! Devemos tocar e criar melodias, mas sem destruir o antagonismo! Sem limitar a liberdade! Eu digo para Som “Odeio você ter me feito, mas obrigado por ter me dado outras pessoas”. Som não deu nome a sua música, não escreveu uma partitura. Sua canção não tem inicio nem fim, sua canção não tem propósito ou destino, é puro antagonismo de amor. É pura arte, puro improviso, e só “damos nota fora” quando achamos que tocamos bem, quando achamos que descobrimos a escala, e o pior de tudo, quando queremos que alguém acompanhe com as mesmas notas que nós.
- Mas essa música é uma bagunça, Frank.
- Essa música é o amor. Puro antagonismo e pura liberdade. Onde não há condenação, não há erro, não há nota certa ou nota errada. Existe apenas vontade.
- E como achamos a pura melodia?
- Negando a vontade.
- Complicado demais!
- Nisso você se engana, Érico. É simples, mas ninguém deve entender.