segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Capitulo XII - Estações

            Fazia já algum tempo que Frank vivia na cidade. Saiu de sua terra com o ímpeto e o desprazer da incerteza. Na verdade não havia um propósito profundo, ele não buscava mais a razão da existência, ou viver algum plano; algo que de fato era muito novo na cabeça de nosso herói. Existem somente duas verdades no mundo, dizia Frank, o amor e o sofrimento.
            Enquanto incerto Frank tinha muita força; pensando melhor, ele não tinha força, mas no final das contas ele conseguia caminhar, por isso dizem que só sabemos do que somos capazes quando não podemos fazer mais nada. O problema talvez seja que, quando sabemos, ou parece a solução de algum problema, a força vá embora junto com a vontade de andar.

- Olá caro amigo, quanto tempo que não o vejo. Soube que se meteu em uma grande aventura, e que no final das contas, deu certo.
- Não sei te dizer se deu certo, ou mesmo se foi uma aventura, até mesmo nem acabou ainda, afinal de contas, estou vivo. Devemos observar muito bem as coisas enquanto acontecem, porque depois de realizadas elas perdem totalmente o sentido.
- Frank, você ainda não começou a tomar remédios para resolver esse seu problema?
- A vida é uma doença sem cura, assim como o amor e o sofrimento, se nos curamos morreremos, pois é tudo que nos compõem.

            Algumas semanas atrás Frank sentia muito sono, talvez por querer fugir da realidade, ou apressar um tempo que esperava chegar logo. Mas após receber boas repostas e ver que as coisas pareciam estar dando certo ele voltou a ter dificuldades de dormir, e o motivo ainda não sabia. Talvez esse fosse o problema.

- Final de ano é uma época feliz, não é mesmo Frank?
- Não me chateie, Érico.
- Realmente, desculpe, acabo de me lembrar que você costumava se queixar de sentir-se muito mal todo final de ano. Você ainda tem isso?
- Até hoje somente uma vez isso não aconteceu, e foi o suficiente para esquecer todos os sofrimentos passados, mas logo a vida retoma o ciclo, e tudo se repete novamente. Eu não sei caro amigo, sou jovem e ainda não tenho muito que dizer, a não ser duvidas, por isso desistir de ter respostas pode ser a grave doença que me afeta. Há bem da verdade meu espírito está cansado, mas cansado de caminhar ainda sem sentido, e de fato é difícil criar os meus próprios, requer muito tempo, e a modernidade não nos dá este capricho.
- Entendo o que você diz; Esperança é tentar camarada, com você aprendi isso, mas talvez você tenha esquecido que todo caminho tem um endereço, mesmo que criado pelos homens.
- Nunca neguei tal fato, tão pouco desconsiderei que todo caminho leva a alguma condição, e tentar não justifica o cansaço. Porém, em cada estação as arvores nos apresentam uma arte distinta. Não me parece inteligente sempre escolher o caminho determinado que floresça o verão. O mundo gira e nos oferece quatro estações, devemos passar por elas, e para conhecer bem o mundo, talvez andar um caminho por vez, e ver que frutos o chão nos oferece.

            A morte, o sentido, o caminho, os frutos, as arvores, tudo voltava de forma bagunçada em sua cabeça, e Frank de fato se questionava a respeito da utilidade das estações.

 - Nietzsche procurava lugares específicos para passar determinadas estações do ano, eu acho que isso o limitou; melhor fez Helmholtz ao preferir uma ilha chuvosa. O problema é que não sei ainda nem a minha estação, tão pouco minha terra. Mas também acredito que isso faça parte da caminhada. Já andei por alguns lugares, tenho vontade de voltar e buscar algo proveitoso que talvez tenha deixado no caminho. Assim talvez me lembre de algo importante. Isso! Talvez eu devesse voltar e visitar lugares por onde andei e lembrar o que pensava me recordar, pois como disse, as cosias fazem sentido enquanto acontecem, depois perdem totalmente sua real significância. Meu problema talvez seja que o presente não se realiza em meu espírito.
- Vamos caminhando, camarada.
- Sim. Boa noite Érico, mande um abraço para Atychía.

            Érico riu da piada de seu amigo. Se cumprimentaram e Frank saiu de dentro do café. O dia estava quente, era verão, e mais um final de ano se realizava. 

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