terça-feira, 20 de setembro de 2011

O Coração do Homem

Quantas vezes um homem pode chorar em um mês?
Quantos passos lentos deve dar em uma semana?
Como deve ser o procedimento de sua nostalgia?
Pode o homem ser, porém, acabar em si?
Dói seu coração, sua respiração não da conta de seus sentimentos.
Pode o homem amar completamente e se saciar em alguma outra coisa?
Nada completa um homem que o próprio ser ele não ama.
Conspira contra ele seus atos, e seus pensamentos o condena!
Pode ainda ser o homem que constrói e destrói a si mesmo?
Suas emoções são fracas, e seu organismo se retrai diante do tudo.
O homem que ama não pode fazer nada além de sofrer.
Pois não consegue esconder seu rosto diante da dor alheia.
Pode ser feliz um homem que vê?
Suas paixões nada significam diante do brilho das lagrimas desconhecidas.
O ser do homem que ama suspira pelo desconhecido, que nem mesmo sua imaginação cogita.
Pode ser o homem que ama? Quando tudo que ele espera é que nada seja?
Pois, se tirar do mundo a dor e o sofrimento, o que resta?
Dói o coração do homem que ama, pois não ignora o que está à sua volta.
Obscuro e misterioso é o coração do homem que chora, pois seus olhos não ignoram o que está a sua volta.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Capítulo XI - Palavras no Caminho

    A noite fala comigo o que não falam todas as pessoas enquanto brilha o dia. Já algum tempo aqui sozinho, continuo me encontrando comigo mesmo, e claro, nunca completo. Foi-se o tempo em que as coisas diziam alguma coisa, e depois de tanto tempo, parece que inutilmente pensei isso, pois não diziam nada de verdadeiro, apesar de certamente, terem sido importante para minha constante formação.
    Continuando à noite, quando o barulho não é bem vindo, eu não posso tocar o violão ou escutar uma boa música, sem incomodar meus inoportunos companheiros; e mesmo que fosse possível ouvir uma bela canção em segredo, o que desventuradamente não o é mais, eu não o faria, pois meus ouvidos ainda estão cansados.
    O que uma palavra significa, ou pode significar, na verdade não diz nada quando em solidão você não se lembra de algum momento em que ela esteve presente. Nesse sentido, a ausência de pessoas me traz muitas palavras. É comum dizer que você pode estar sozinho mesmo no meio de uma multidão, isso apesar de verdadeiro, não é mais importante, pois as pessoas nunca saem de perto quando deixam com você alguma palavra, e com isso, todo tipo de gente ainda está comigo, mesmo aqueles que hoje me odeiam, ou não pensam mais em mim, e se pensam, com menosprezo, rancor, ou seja lá o que for. Gostaria de dizer que toda palavra fica guardada em um local, e só volta a noite, quando não existe mais ódio, apenas o puro sentimento humano da melancolia e desventura.
    Pensar sobre todo o ser, e que já se foi, relembrar, saudar-se, desnudar-se do hoje, é encontrar a si mesmo no mais puro intimo esconderijo do seu ser, e ter vergonha de si mesmo quando lembra de algo que mais ninguém sabe, rir diante do que todos sabem hoje, sendo verdade ou não; afinal de contas, o verdadeiro e o falso são amigos que se divertem e apostam vendo agente brigar, só eles ganham com isso.
    Enfim, como sempre, agoniado está meu coração, na presença de tantas palavras e pensamentos, com a ausência de certezas que me abandonaram, e na presença de dúvidas que tento ignorar, pelo menos por enquanto. Ainda ameaçado pela incerteza que nunca me abandonou, apesar de já ter tido sonhos mais seguros, ainda comigo mesmo está o verbo, seja lá o que for que ele signifique.