sexta-feira, 17 de junho de 2011

Nihil

Sofrer, sofrer! É tudo que é.
Tudo que é para além da enganação.
Minta para si mesmo, e encontre seu entorpecente, a felicidade.
Espere de si mesmo e encontre um presente, a necessidade.
Espere do outro, e fuja do amor.
Sofrer, sofrer! É tudo que se têm quando se espera.
Esperar devemos, antes, se for o caso, de nós mesmos, e se ame.
Espere, e não queira nada, e ame o outro, sem necessitar alterar uma farpa.
Querer, querer! Ser, ser! Que veneno em minha alma.
Ser por que ter, ter que ser, não importa o valor da alma.
Tanto, tanto que se deve. Seria tal, mais fácil e necessário, não ser.
Agonia, agonia! Fugir de mim e ter que me encontrar perdido para outro.

O valor do amor

- Quanto vale o amor de um desafortunado?
- Vale muito, e quem pode pagar nunca o possui, não o detém, e nem o pode oferecer.
- E porque tão tolo é esse que não se sabe o que é?
- É tolo porque dele só temos o nome.
- E tantos significados para este nome, não temos?
- Sim.
- E o que fazemos com eles?
- Invente outro e continue errado.
- O amor é um erro!
- Sim meu caro, o único que vale a pena.
- Mas e o sofrimento?
- A única verdade!
- Então a única coisa que vale a pena é a que mais faz sofrer?
- E a única que pode trazer algum conforto.
- Então a manifestação da única verdade, a saber, o sofrimento, se completa na única coisa que pode trazer conforto?
- Sim, e também confronto.
- Como pode ser tão antagônico?
- Me diga meu amigo, quem foi o inepto que inventou a necessidade de se buscar somente coisas boas?
- Não o fazemos assim desde o inicio?
- Sim, desde que o demônio caiu do céu.
- E agora você acredita no diabo?
- E você ainda não entende minha poesia?
- Nada do que você diz tem sentido.
- Lhe digo o mesmo. Você pode ficar com o sentido criado por alguém ou criar o seu próprio.
- Você ainda com essa conversa.
- Lhe digo o mesmo.
- E o amor do desafortunado?
- Bate no ritmo da canção cega diante de olhos surdos, pois não podem mais perceber a beleza da canção que adentra seus ouvidos.
- E qual é o compasso desta canção?
- Como posso saber?
- Não é você o criador do perceptismo?
- Cego, surdo, pobre, louco e nú.
- Quanto sofrimento!
- Quanto amor.
- Pensas que Deus gosta disso?
- Como não gostaria? Aprendi sobre o sofrimento com o próprio.
- Então você acha que Deus é um infeliz?
- Feliz que não pode ser.
- Não vez toda coisa boa que há?
- Eu posso escolher ver as boas ou as ruins, mas se Deus vê tudo isso ao mesmo tempo, ou Ele é o maior dos deprimidos ou o maior dos loucos. Creio ser os dois, e se fosse o contrário disso, não sei se gostaria dEle.
- Louco és tu!
- Também aprendo com o mestre. Fico com o que é loucura para os homens.
- Você não é criador de mitos, é um criador de loucuras!
- Se trata da mesma coisa, e digo o mesmo para os que dizem serem descobridores da verdade. A diferença é que não espero estar certo.
- E você ainda com essa conversa!
- Lhe digo o mesmo.
- Paremos logo com isso, pois já me cansei.
- Eu a mais tempo que você.

domingo, 5 de junho de 2011

Capitulo VI: Desventuras de amor na cidade

- Olá Frank, como você ta hoje, cara?
- Normal meu velho...
- Como sempre, né?
- É esse o significado da palavra normal...
- Porra, você é chato pra caralho ein! kkk
- Fazer o que, é foda! kkk
- Ta bom cara, deixa isso pra lá! Mas me diz; em que você tem pensado esses dias?
- Putz cara, quando tenho tempo de pensar penso em não querer pensar mais, porém, o amor é um tema que tem freqüentado minhas idéias.
- Já falei pra você parar com esse lance de romantismo, pessimismo alemão e essa porra toda! Goethe não paga contas ,cara!
- Pelo menos ainda não, Érico. kkk
- Ta certo. Mas e o amor? Sei por que você tem pensado nisso...
- Acho que nisso você se engana. Eu não costumo separar as coisas. Toda experiência, todo assunto, faz parte de uma coisa só, a vida.
- Sei. Então do que você ta falando? Se é que diz algo.
- Ter algo a dizer não significa ter algo de interessante a ser ouvido. Talvez, Érico, eu não deveria é dizer mais nada.
- Mais então não teria graça, você me fez rir tanto!
- É... Eu sei Érico, as pessoas riem de tudo, mas Nietzsche já dizia que o homem é o animal que mais ri porque é o que mais sofre. E eu ainda digo mais; o homem é o único animal que ri, porque é o único realmente burro.
- Então fudeu ein, Frank!
- Pois é...
- E o amor? Alguém pessimista com você ama?
- Só responderei a essa pergunta idiota, Érico, porque você é meu amigo. Depois pensarei o porquê de você o ser, o que às vezes, pra mim, não faz nenhum sentido! kkk
 (Silencio)
- Pensei hoje sobre o amor de Som, e o como me sinto amado por Ele. O amor de Som é incrivelmente satisfatório e refrescante, pois sei que Ele ama a todos, e me sinto totalmente livre para dizer pra Ele que não gostei do que ele fez, ou seja, eu. O amor só é verdadeiramente livre quando você pode dizer exatamente aquilo que você pensa, e o primeiro a saber das coisas que penso é o Som, não porque Ele sabe de tudo, o que prefiro achar que não sabe, mas porque faço questão de dizer pra Ele “ Você não devia ter feito isso!”
- Você é um herege!
- Eu sou livre, camarada! E Som ama a liberdade, pois Ele é um livre criador, e cria tudo com liberdade, por isso a sua musica não tem limites, nem destino, é só improviso; e também por isso sai tanta merda!
- Sei...
- Então. Isso é o amor. O puro antagonismo.
- Como o amor pode ser antagônico?
- Pois te digo que é tudo, e a única coisa que ele é. Veja. O amor é simples, mas nunca devemos entendê-lo. O amor é completo, mas sempre falta algo. O amor é bom, mas sempre faz sofrer. Sempre amamos a pessoa certa, assim podemos dizer, mas sempre da algo errado. O amor é sempre tudo que queremos, e sempre tudo que não podemos ter. O amor é a pura liberdade, que te prende ao infinito, nos liberta, e nos torna escravos dele mesmo, por pura e redundante liberdade. Enfim, o amor é tudo que queremos, e sempre acabamos fugindo dele. Como a tristeza, que é a maior característica que temos, e lutamos contra ela inventando alegrias sem sentido. O amor é o completo falho, que completa seu próprio vazio. O amor é o remédio da loucura causada por ele mesmo, é o veneno e o antídoto. É a dialética, o antagonismo, o niilismo, a razão e a ignorância. O amor é o humano e o divino, a música e o silencio, tudo ao mesmo tempo. O amor é tudo, mas só é completo quando não é nada.
- Odeio conversar com você, Frank. Você faz eu me sentir mal, mas humano.
- Talvez o amor de Som por nós seja exatamente esse antagonismo, mas em nossa liberdade de improvisar em sua música, passamos a colocar harmonia onde não tem.
- Você ta dizendo que não existe sentido?
- Exatamente!
- Então devemos parar de tocar?
- Claro que não! Devemos tocar e criar melodias, mas sem destruir o antagonismo! Sem limitar a liberdade! Eu digo para Som “Odeio você ter me feito, mas obrigado por ter me dado outras pessoas”. Som não deu nome a sua música, não escreveu uma partitura. Sua canção não tem inicio nem fim, sua canção não tem propósito ou destino, é puro antagonismo de amor. É pura arte, puro improviso, e só “damos nota fora” quando achamos que tocamos bem, quando achamos que descobrimos a escala, e o pior de tudo, quando queremos que alguém acompanhe com as mesmas notas que nós.
- Mas essa música é uma bagunça, Frank.
- Essa música é o amor. Puro antagonismo e pura liberdade. Onde não há condenação, não há erro, não há nota certa ou nota errada. Existe apenas vontade.
- E como achamos a pura melodia?
- Negando a vontade.
- Complicado demais!
- Nisso você se engana, Érico. É simples, mas ninguém deve entender.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Capitulo V: Desventuras na avenida

            Frank caminhava de volta para casa, em mais uma manhã após o fadigado e antagônico trabalho, isso pois era oportuno e inoportuno ao mesmo tempo.
Em seus ouvidos soava a bela canção “I Guess I'll Hang Out My Tears Out To Dry” com Dexter Gordon no saxfone tenor. A suave neblina tornava a percepção das luzes nos postes e nos carros que andavam na avenida levemente embaçada, isso porque o sol ainda não tinha aparecido, o que tornava tudo demasiado diferente, primeiro porque Frank ja contava com tal espetaculo, e o som que ouvia causava uma percepção em Frank, de tal forma que o levava a se sentir longe e ao mesmo tempo perto da realidade, seja lá o que for que ele entendia por realidade naquele momento.
Ele pensou rapidamente no que vinha acontecendo nesses últimos dois meses, em especial nos ultimo, já que nesse dia ele completou um mês nesse tal emprego. Mas esse pensamento não o incomodou, já que ele estava conformado e adaptado com a idéia de que aquilo era necessário para tentar algo que ele acreditava ser possível dar certo, em algum sentido. Pois era uma boa oportunidade, a que ele tinha. O pensamento que na verdade incomodou Frank ao ver tantos carros tão cedo na avenida, tanta gente indo trabalhar, outras voltando, como ele estava, alguns ainda bebendo nas esquinas, e uma tanta sorte de cosias estranhas e comuns que se pode imaginar, foi: “Como é possivel se sentir, ou estar, tão sozinho no meio de tanta gente?” Pensamento comum, ainda mais nos tempo de hoje, seja lá em que tempo estamos.
Frank já estava acostumado a apenas ouvir as vozes das pessoas que há algum tempo já não via, e ainda não queria desistir de um dia voltar a ver quem talvez já não devia. A grande verdade talvez seja que tudo aquilo ainda não fazia sentido para ele.