domingo, 5 de junho de 2011

Capitulo VI: Desventuras de amor na cidade

- Olá Frank, como você ta hoje, cara?
- Normal meu velho...
- Como sempre, né?
- É esse o significado da palavra normal...
- Porra, você é chato pra caralho ein! kkk
- Fazer o que, é foda! kkk
- Ta bom cara, deixa isso pra lá! Mas me diz; em que você tem pensado esses dias?
- Putz cara, quando tenho tempo de pensar penso em não querer pensar mais, porém, o amor é um tema que tem freqüentado minhas idéias.
- Já falei pra você parar com esse lance de romantismo, pessimismo alemão e essa porra toda! Goethe não paga contas ,cara!
- Pelo menos ainda não, Érico. kkk
- Ta certo. Mas e o amor? Sei por que você tem pensado nisso...
- Acho que nisso você se engana. Eu não costumo separar as coisas. Toda experiência, todo assunto, faz parte de uma coisa só, a vida.
- Sei. Então do que você ta falando? Se é que diz algo.
- Ter algo a dizer não significa ter algo de interessante a ser ouvido. Talvez, Érico, eu não deveria é dizer mais nada.
- Mais então não teria graça, você me fez rir tanto!
- É... Eu sei Érico, as pessoas riem de tudo, mas Nietzsche já dizia que o homem é o animal que mais ri porque é o que mais sofre. E eu ainda digo mais; o homem é o único animal que ri, porque é o único realmente burro.
- Então fudeu ein, Frank!
- Pois é...
- E o amor? Alguém pessimista com você ama?
- Só responderei a essa pergunta idiota, Érico, porque você é meu amigo. Depois pensarei o porquê de você o ser, o que às vezes, pra mim, não faz nenhum sentido! kkk
 (Silencio)
- Pensei hoje sobre o amor de Som, e o como me sinto amado por Ele. O amor de Som é incrivelmente satisfatório e refrescante, pois sei que Ele ama a todos, e me sinto totalmente livre para dizer pra Ele que não gostei do que ele fez, ou seja, eu. O amor só é verdadeiramente livre quando você pode dizer exatamente aquilo que você pensa, e o primeiro a saber das coisas que penso é o Som, não porque Ele sabe de tudo, o que prefiro achar que não sabe, mas porque faço questão de dizer pra Ele “ Você não devia ter feito isso!”
- Você é um herege!
- Eu sou livre, camarada! E Som ama a liberdade, pois Ele é um livre criador, e cria tudo com liberdade, por isso a sua musica não tem limites, nem destino, é só improviso; e também por isso sai tanta merda!
- Sei...
- Então. Isso é o amor. O puro antagonismo.
- Como o amor pode ser antagônico?
- Pois te digo que é tudo, e a única coisa que ele é. Veja. O amor é simples, mas nunca devemos entendê-lo. O amor é completo, mas sempre falta algo. O amor é bom, mas sempre faz sofrer. Sempre amamos a pessoa certa, assim podemos dizer, mas sempre da algo errado. O amor é sempre tudo que queremos, e sempre tudo que não podemos ter. O amor é a pura liberdade, que te prende ao infinito, nos liberta, e nos torna escravos dele mesmo, por pura e redundante liberdade. Enfim, o amor é tudo que queremos, e sempre acabamos fugindo dele. Como a tristeza, que é a maior característica que temos, e lutamos contra ela inventando alegrias sem sentido. O amor é o completo falho, que completa seu próprio vazio. O amor é o remédio da loucura causada por ele mesmo, é o veneno e o antídoto. É a dialética, o antagonismo, o niilismo, a razão e a ignorância. O amor é o humano e o divino, a música e o silencio, tudo ao mesmo tempo. O amor é tudo, mas só é completo quando não é nada.
- Odeio conversar com você, Frank. Você faz eu me sentir mal, mas humano.
- Talvez o amor de Som por nós seja exatamente esse antagonismo, mas em nossa liberdade de improvisar em sua música, passamos a colocar harmonia onde não tem.
- Você ta dizendo que não existe sentido?
- Exatamente!
- Então devemos parar de tocar?
- Claro que não! Devemos tocar e criar melodias, mas sem destruir o antagonismo! Sem limitar a liberdade! Eu digo para Som “Odeio você ter me feito, mas obrigado por ter me dado outras pessoas”. Som não deu nome a sua música, não escreveu uma partitura. Sua canção não tem inicio nem fim, sua canção não tem propósito ou destino, é puro antagonismo de amor. É pura arte, puro improviso, e só “damos nota fora” quando achamos que tocamos bem, quando achamos que descobrimos a escala, e o pior de tudo, quando queremos que alguém acompanhe com as mesmas notas que nós.
- Mas essa música é uma bagunça, Frank.
- Essa música é o amor. Puro antagonismo e pura liberdade. Onde não há condenação, não há erro, não há nota certa ou nota errada. Existe apenas vontade.
- E como achamos a pura melodia?
- Negando a vontade.
- Complicado demais!
- Nisso você se engana, Érico. É simples, mas ninguém deve entender.

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