segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Outro

Hoje não conto uma história de amor
Pois hoje o que me gera dor
É a dor de quem eu não conheço
O que me mata a vontade
É a realidade de quem
A vontade não pode lembrar

Hoje minhas lagrimas
Não saem de meus olhos
Mas de vistas que nunca me viram
Choro que nunca ouvi
Da comida que não foi em que não comi
Do Sol que outro não vê nascer

O sono que perco não é o meu
A música que faço não é minha
A noite que vivo não me apadrinha
Porque não vi ainda
De verdade o amor
Uma história atravéz
De mim contar

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Jesus, belo e sublime


Jesus é pura e simples poesia. O belo e sublime que pode nos elevar ao impulso lúdico e à liberdade no fenômeno, a saber, à vida. Qualquer polarização dessas potências nos levará ao equivoco e minimalização ôntica da verdade que ele pode representar.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Sons

Quantos gritos foram dados ao silencio apenas ouvir?
Blasfemando ao choro d’água sem de nós sentido ter!
Injustiça ao vento seco esperança dorme cedo
Glória e graça que te tenha passa a noite sem sossego

Homem velho seco e estranho no silencio não diz nada
Choro tosco risonho e pronto que saudade nunca mata
Lamuriando todas as vidas que já foram sem falar
Espero o justo canto da voz doce não tarde escutar

sábado, 24 de novembro de 2012

Desejo de nada

Quando de não saber comportar-se
E a vergonha de nada serve
Mesmo a razão não o justifica
Nem mesmo a caverna útil é
Pois não nos esconde de nós mesmos
O vazio sentido se transforma
Em mais puro desejo de nada ser

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Desventuras do sentir

Estava lá, ele, vazio. Muita gente inventa formas, coisas, que dizem preencher isso, mas saibam caros amigos, é tudo mentira! Melhor, pode ser verdade, pra você, se assim preferir, mas o caso de nosso herói era diferente, somente uma coisa poderia ajuda-lo, a saber, o amor, porém estava tão vazio que se fosse tentar dizer o que sentia criaria outra língua.          

Que rapaz teimoso, burro até. Na verdade eu tinha muita raiva dele na época em que éramos amigos, antes dele morrer, o que de fato é outra conversa. Eu dizia para ele, mas não adiantava nada, eu dizia que amar demais mata, e de fato, foi disso que ele morreu. Um dia o coração parou, ele decidiu não amar mais.   

Bom, contarei, melhor, tentarei contar, mais ou menos, é claro, pois nunca é possível contar ao certo o que se sente, imagina quando se trata do sentimento de outro, imagina nosso herói que sentia mais do que devia. Vocês podem acreditar, ele morreu de tanto sentir! E bem que eu avisei, eu dizia pra ele parar com isso! Mas não adiantava! Aquele teimoso, que vontade que dava de bater nele! Mas enfim, era meu amigo, e eu o amava, o que poderia fazer? Ele me ensinou a sentir também. E acho que morrerei da mesma coisa.           

Quando pequeno ele sobia numa arvore para sentir, olhava para o céu, olhava para baixo, para frente e para os lados, e sentia. Às vezes ele tinha vontade de pular mas como era novo não sabia o que isso significava. E quando o pé de cajá estava frutificando comer aquele azedo fruto até que parecia ter sentido. 

Eu mesmo não sei dizer ao certo quando ele começou a sentir, mas se eu esforçar muito bem a minha mente creio que me lembrarei de algo que ele me contou. Acho que sim. Era mais ou menos assim...        

Era seu aniversário de quatro anos quando ele percebeu, pela primeira vez, eu acho, aquela sensação, que nunca mais o abandonou. Ela era linda, talvez um ano mais velha, mas não importa, ele sentiu, era tudo novo. Claro que ele não sabia o que significava, mas durante toda a festa ele queria estar perto dela, e como era diferente! Nenhum de seus amigos fazia diferença, a nenhum deles ele dava tanta importância! Acho que se tivesse somente ela em seu aniversario ele não sentiria falta de mais ninguém, mas claro, isso porque ele ainda não entendia bem as coisas. Se bem que, mesmo depois de entender melhor ele ainda sentia isso. Nunca algum psicólogo conseguiu explicar.       

Uma coisa interessante sobre ele é que não gostava de sentir, ele queria mesmo parar com isso, mas não conseguia, era mais forte que ele. - Sentir dói! - Ele dizia - Como faz mal para o espírito, seja lá o que isso for.  

Não sei se isso importa, mas quando ele falava disso sempre chorava. Sempre o encontrava olhando para o céu, ou para o chão, não importa, ele sempre olhava para algum lugar, não sei o que ele via, mas via alguma coisa, não sei o que significa, mas isso mexia com ele.

Vazio Erário

De certo que o mundo deveria apagar suas velas
E se deixar iluminar pela  singela lua vazia
Para a noite que tardia chega apagada e sombria
Trazendo sono esquecimento descanso e talvez alegria
Obscurecer da memória as agonias da outrora maldita

De certo que o sol deveria se esconder fulgente e livre
Pois o amor quando brilha ofusca e até prende
Não parece mais quem é ou diz disfarça e mente
O outro se faz tanto e por completo que desejo sente
Que sofrer passa a ser sua luz e dor candente festejo

As estrelas deveriam se esconder e espaço não vos falta
Os planetas antes deuses esses por vezes esquecidos
Resolverem suas pendências com o Olimpo escondido
Para que a liberdade nos levasse de volta e não tarde
À lagrimas não mais de medo mas de esperança e surgir

O sol talvez devesse se apagar eternamente e sempre
Para não por mais fogo na floresta de seus olhos gentis
A lua não mais iluminar os raios de fogo em suas aureolas
suas cedas não mais me enfeitiçarem ao suave toque e ranhura
E seus lírios não mais me inebriarem à presença da esperança

Mas sem a vida de que de ti me tens por completo e venéreo
Do vazio que me faz o anseio de logo ver apinhado gosto
Com palavras de verdades que amargam o mais doce e seleto
Nem sol nem lua necessários são para exercer seu objeto
Pois o amor mesmo no vazio faz brilhar em mim reflexos erários

domingo, 21 de outubro de 2012

Últimos dos Sonhadores

Silencio exasperador este deixado pelo amor
Nenhuma canção mais canta o que vem ao coração
Tudo parece vulgar quando o belo escarece
E o sublime vira motivo de piadas
Uma cultura mediocre envergonha toda "areté"

Barulho atordoador este dos mudos
Que de tudo que faz e tem
Mesmo que sincero e faça bem
De tão pobre que é sua "kultur"
Sua forma ofende o escultor

Desanimadora toda aparência
Que fingida e divertida
Engana tolos e "afagãos"
Toda beleza tao falsa que é
Desanima a esperança e a razão

Essa gente que tanto agrada e quer
Desfaz toda confiança
Mas não tiram a verdade
Dos últimos que sofrem
E ainda de verdade cantam

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Porque Insisto na Esperança


            Insisto na esperança por ser ela algo novo pra mim. De fato essa palavra sempre foi tabu pra mim, como era também “felicidade”. Apesar de o texto anterior tratar sobre esses dois conceitos, quero agora dar atenção especial a esperança. E para isso tentarei ser claro e direto.     
            A teologia religiosa abortou a esperança em mim durante muito tempo. A ideia de um ser humano completamente depravado, dependente da boa vontade de um Deus cabreiro que sabe de tudo, ou pior, escolhe e determina tanto sobre essa vida agora quanto a futura, atava minhas mãos e me impedia de ver possibilidades. Pois afinal de contas, pra que ver possibilidades se o controle de tudo está nas mãos de um ser que já tem os planos determinados? Para ter esperança é necessário ter liberdade, e viver em função da suposta vontade soberana de um roteirista inquestionável não me parece liberdade, mas ser ator de uma peça chata e mal escrita, pois ninguém pode dizer que os atos estão agradando a plateia (a não ser aos conformados, que de fato, são os principais responsáveis por ser o mundo como é).     
            Quando rejeitei essa ideia de Deus um mundo novo se abriu para mim. A esperança aparece não como certeza ou a mínima crença de que o mundo ou a vida vai melhorar, mas como fruto da nossa liberdade de lutar por isso, mesmo sem garantia dos resultados. Libertar-me desse Deus assustador, que sufocava minhas perspectivas, melhor, que não me permitia ter uma concepção de vida que vá para além da minha própria salvação ou a de alguns bem aventurados que por vontade dEle ou algum milagre concordasse com determinado sistema de fé, possibilitou ver a vida como fruto de nossas escolhas, resultado de como o construímos, e de como somos culpados das coisas como são. Insisto na esperança porque fomos libertos para a liberdade, e sendo livres devemos lutar, certo de que não estaremos sozinhos, jamais.   
            Diante disso, insisto na esperança porque vim de um sistema ideológico que não permite ao ser humano se perceber como agente da sua história, e dizer “seja feita a vontade de Deus” e esse tipo de coisa, justifica o cidadão votar no candidato que supostamente está ganhando nas pesquisas, pois supostamente Deus sabe das coisas. Insisto na esperança porque posso votar no candidato que acredito ser melhor para a população, para além de meus interesses pessoais, para além das pesquisas de opinião, e para além da vontade de Deus. Insisto na esperança porque a liberdade me impõe isso!    
            Costumava acreditar que o mundo não tem solução, ou a solução era algo restrito, que não resolvia nada, e por isso havia desistido da possibilidade de tentar qualquer coisa, pois parecia inútil. Até que entendi que assim estava fazendo mau uso da liberdade, pois tomei para mim a culpa de meu pessimismo. Logo, insisto na esperança como insisto na liberdade, pois sem esperança, além de inútil, me torno escravo.        
            Insisto na esperança como insisto na vida, pois ninguém vai tirar de mim a morte. Insisto na esperança porque ninguém vai extinguir a dor e o sofrimento no mundo. Insisto, pois a tristeza é verdade, e sem esperança não há alegria. Insisto na esperança porque sem ela não é possível caminhar. Insisto na esperança porque sem ela o político corrupto sempre será eleito, e serei responsável por isso. Insisto, sim, porque sem esperança os ricos continuarão mais ricos, e os pobres continuarão deixando-os ricos. Insisto na esperança porque sei como é viver morto e sem sentido, pois crenças enlatadas e enganadoras não dão esperança, apenas amortecem e mantém o que é como é. Insisto na esperança porque ela não é só para mim, para meu amigo, para quem gosto, e sim porque ela é para o mundo, e para fora de mim, é motivo e movimento, é vida, e vida em abundancia, é virtude, é nobreza. Insisto na esperança pois ela abre meus olhos para a visão de uma amanhã, mesmo que as janelas estejam fechadas, pois sou livre para quebrar as barreias que me impedem de ver lá fora.      
            Insisto, caros amigos, na esperança, porque ninguém pode tirar de nós a liberdade. Podem nos abafar, nos amarrar, nos prender, mas nunca apagar o sol, e um dia uma fresta aparece e ele se faz conhecer.           
            Por fim, caros leitores, esperava um texto totalmente diferente do que saiu, mas para terminar, insisto na esperança porque fomos libertos para a liberdade, o libertador vive e caminha com todos, nos deu liberdade para construir, nos deu sonhos para sonhar, nos deu vontade para caminhar, não para esperar, Mas lutar! E juntos, misturados, tristes e encabrunhados, doloridos e enfadados, mas livres, construir algo novo, criar inspirados, rumo ao horizonte, utópico sim, mas visível   

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Sobre felicidade e esperança. Cultura e utopia.

              Há muito que devo um texto sobre a felicidade, assunto caro pra mim, e também sobre a esperança, assunto que ganhou lugar em meus pensamentos no ultimo ano. De certo que sou conhecido pelo pessimismo e não crença na felicidade, porém, nesses últimos três anos, em que muitas coisas resignifiquei ou mesmo passei a tentar significar, esses conceitos passaram a ser fundamentais em minha formação. A felicidade nem tanto, pois essa apenas resignifiquei para excluir de meu vocabulário. Mas a esperança, essa sim, veio com força, me trazendo vida.    
            Minha visão de felicidade mudou quando, na segunda metade de 2011, li o romance “Vida e Proezas de Aléxis Zorbás” ou “Zorba, o grego” do escritor Nikos Kazantzákis.          
            Mais ou menos no meio da história, o narrador, chamado também por Zorba de “patrão”, recebe uma carta de um antigo amigo chamado Karayiànnis, também grego, dando noticias. Para entender a história, fica a dica da leitura, vamos ao que importa que é parte do conteúdo da carta, em que Karayiànnis diz ao “patrão”:   

Percorro cidades e aldeias, reúno os gregos, faço relatórios, telegrafo, empenho-me para convencer as autoridades a nos enviarem barcos, alimentos, roupas, remédios e a conduzirem todas essas almas à Grécia. Se lutar com tanta obstinação é felicidade, então eu sou feliz.   


            Aparentemente, o romance não deixa claro, Karayiànnis era voluntario em algum lugar da Rússia, em plena guerra, e estava tentando libertar seus compatriotas gregos fazendo-os voltar para sua terra natal. A grande questão que me chamou a atenção é que felicidade para Karayiànnis é luta, é fazer algo, mas não por ele mesmo. Poderia dizer que esta luta fazia-o sentir-se pleno do ser, ou seja, a felicidade seria a realização plena de sua existência, e isso não tem a ver consigo mesmo, mas com os outros, seus compatriotas.       
            Deixando um pouco de lado a história, que você pode ler adquirindo o livro. Vou me ater ao que quero dizer. Felicidade, nesse sentido, nada tem a ver com algo bom para si, algo que de alegria, bem estar, satisfação ou realização pessoal, enfim, todo tipo de futilidade narcisista e egoísta tida no mundo do capital como alvo principal da existência. Felicidade seria a plena realização da existência, com base no principio do amor, que sugere a vida para fora, ou seja, a vida para além de si mesmo. Se considerar nesse sentido, posso alterar o termo “felicidade” por “existir plenamente” ou simplesmente “amar”. Quem pensa seriamente no amor sabe que essa é uma experiência mais “ruim” que “boa”. O amor não oferece garantia de nada, não promete resultados positivos, satisfação ou realização, amar está mais para “realizar-se para o outro”, sem garantia de retorno. Não preciso dizer que o melhor exemplo do que digo é Jesus Cristo. Logo, em resumo, todo ideal de felicidade que sugere satisfação própria, realização, alegria, contentamento etc. pode ser jogado no lixo, no esquecimento, pois é uma palavra totalmente inútil, fútil, burra.           
            Mas o que isso tem a ver com esperança? Logo vos digo!  
           Da mesma forma como felicidade não é algo bom para si, esperança não é otimismo. Acho que já escrevi aqui sobre isso, mas, esperança é tomar uso da liberdade para lutar por algo do qual não se espera sucesso. Esperança não é esperar por algo que já se sabe que vai dar certo, mas justamente o contrário, é lutar mesmo sem saber os resultados, tendo em vista, no mínimo, que ninguém sabe os resultados, pois a vida é contingente. O problema, penso eu, é que a cultura moderna, moldada pelo capital e pelo egoísmo, natural do humano mas alimentado pelo narcisismo engendrado no homem pela cultura do capital e do consumo, da realização de si mesmo, de seus interesses (outro problema), é uma cultura burra. A modernidade conseguiu construir uma cultura sem esperança, sem busca por respostas, sem vontade de luta. Uma cultura onde o que mais importa é o riso, ver uma novela idiota, um filme sem sentido, uma revista de fofoca, fazer compras inúteis, desnecessárias, enfim, uma cultura onde o que importa é satisfazer a si mesmo, chamando isso felicidade.    
            No marxismo a culpa será dada ao modelo econômico, mas considero, a partir do que alguns chamam de culturalismo, que o sucesso do modelo econômico vigente tem base na consolidação de dessa cultura burra, alienante. Logo, para mudar uma pessoa, para mudar uma sociedade, deve-se educar e construir uma nova cultura. Sobre essa cultura ideal vale outro texto, pois trato da cultura estética por meio da educação do gosto, mas deixemos isso pra depois.          
            Mesmo que tratando de forma ridiculamente reduzida, e claro, mesmo não sendo nenhuma novidade, vale dizer. O mundo fica pior à medida que as pessoas desistem da utopia, param de sonhar, se satisfazem com suas realidades medíocres e se divertem com seus entretenimentos efêmeros. Uma cultura transformadora caminha em direção a um horizonte utópico, por meio da esperança, de luta e de sonhos. Não haverá um mundo melhor enquanto a cultura for medíocre.          
            Logo, caros amigos, deixemos de buscar a felicidade burra e passemos a ter esperança, legado maior deixado por Jesus Cristo. Considero serem esses os primeiros passos para nossa reeducação e humanização, com meta à utopia, à justiça, à liberdade, e ao amor.      
            E antes de me chamar de hipócrita, pois de certo que não manifesto infimamente isso que escrevi, não se esqueça, caminhemos rumo ao horizonte utópico!

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Dor de poeta

Um poeta, ao não ter com quem compartilhar sua dor
Cria um Deus para si, e este certamente o ouve
Pois o Demônio, quando toma nossa alma
E todo nosso corpo sente falta do amor
Toda voz se cala nesse mundo
E o amor, que é a única verdade
Nos faz desejar que fosse uma mentira
E grita em mim a vontade de ter por perto
Você que é a razão e inspiração de tudo que digo

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Palavras Tolas

Melhor esquecer o que faz sofrer?
É possível começar de novo?
Culpa, toda culpa pertence a quem fala
Todas as palavras são tolas
Tudo que digo é tolo
Nem mesmo Deus eu sei se escuta mais minhas lamurias
Envergonha-se da criação, de minhas palavras

O sol se apaga ao me ouvir
A lua perde seu brilho
Os olhos verdes da natureza se fecham diante das inutilidades de meu pensando
Tudo que digo está errado
É possível começar de novo?
A felicidade nunca me fez sentido
Agora tão pouco a alegria
E todo riso me parece uma blasfêmia
Viver é cada vez mais insuportável
Porque amar é uma doença mortal
Nos faz errar em tudo
Mesmo quando acertar é tudo que queremos
Esforçar-se! Diga!
Mas toda palavra é tola
Tudo que digo se estraga
Porque sinto tudo estragado, errado
Os pássaros podem voar todo o céu
Mas voam junto aos seus
Vez para o sul
Vez para o norte
Também assim, as palavras do tolo não tem lugar
Ninguém as aceita
Pelo menos os pássaros são belos

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Logos

Quem pode nomear as amarguras das ideias?
Acaso o verbo já as deu sentido?
Como amar o que diz quem sou antes mesmo que seja?
Preferia eu ser livre!

Mas por ser livre faço uso de minhas entranhas
Não às venha ferir com julgamentos de pureza!
Se o Verbo nos impões seus sentidos
Dou a ele os adjetivos que merece

Todo perdão é necessário
Para quem não se contém na sinceridade
O que é dito ao silencio não tem valor
Poucas palavras servem para expressar certas dores

Acuse o fiel!
Mas não por tentar calar o Verbo
Sou culpado por ainda querer que me diga alguma coisa
Devo pagar o preço da solidão?

Palavras! Julgue-me verbo criador!
Por desejar que faça algum sentido pra mim
Odeio-te se me condenas
Mas amo-te por ser livre comigo

domingo, 12 de agosto de 2012

Agon

            Gritos! Não se ouvem, mas ensurdecedores são aos ouvidos de quem grita. Cacos! Tudo que fica pelo caminho, e fura os pés de todos que pelo caminho. O peregrino não tem somente um livro para o guiar, mas por sua vez, tentava sempre ser fiel às suas sensações.
A princípio é natural ao ser buscar certezas e se convencer de suas verdades. E alguns assim permanecem todos seus dias, como gelo seco na caixa de isopor do vendedor de picolé numa bela praia em escaldante dia de verão.
Assim também é o peregrino. Mas não sabe ele que seus caminhos deixam buracos, e suas sinceridades, feridas. O que acaba por descobrir, aprofundando assim, em seu percurso, por adoecer mais e sentir pior e fortes dores em suas erupções.
Sensação perpétua, a de estar colhendo seus cacos. Tudo que fora, e que já vislumbra mais uma vez mudar, deixava em seus caminhos pedaços confusos de si mesmo. É como se viver fosse uma arte constante de tentar resolver algo pendente. Os cacos não findam, suas questões ressurgem, e como fugir não era uma opção, o que fazer dos cacos? Certamente a resposta é ferir-se!
Amedronta-te até mesmo o cão selvagem diante da incerteza do dia por vir, pois os homens o destituíram de seus alimentos ao queimar a mata, seu habitar natural. Porém, pior que isso, é privar o animal de sua liberdade de caçar. Também o homem, afinco ao dispor de sentidos, aborta-te a mente a necessidade da verdade conhecer, essa que não combina com o belo, com o sublime tão pouco.
Liberta-te escravo da razão, e perceba! Grite ao catar seus cacos! Não faz sentido tentar encaixar paralelepípedos no chão. O belo e o sublime estão dispostos em tudo que se pode conhecer, desde que a nobreza do espírito, de forma vivaz, não somente contemple a beleza, mas tenha seu coração transbordado de inconformismo. Arranque de teu coração a necessidade de ser, para que não seja se não para o outro, eis um projeto nobre de vida. Agoniza-te! Projeto infeliz e inalcançável! Porém, somente os fracos desistem antes da morte!
Para caminhar é necessário estar disposto à solidão, porém, nunca se deve a esta se conformar. Considere-se a isso, portanto, o fato de que a companhia do peregrino são as pessoas que encontra pelos caminhos, certo de que, mesmo assim, sozinho nunca estará, tendo em vista que toda culpa se expia nesse mundo.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Porque Insisto em Cristo


Aeroporto sempre é um lugar de bastante reflexão. Mesmo antes do embarque, e do voo para o devido destino, o prelúdio da bela visão que terei do céu, em razão do belo tempo adianta em mim a mesma reflexão de sempre, aquela que embala minha mente, me tira o sono, ou me dá vontade de logo dormir na esperança de que em sonho eu me veja melhor.

Olhar toda sorte de estereótipos de pessoas, rumando para os mais diversos lugares, sempre me faz refletir sobre as infinitas possibilidades do ser, o que obviamente nos remete a critica do ser que somos, ou seja, nossas opções, nossas opiniões, e por fim, dúvidas e crenças. O olhar para diversidade me faz pensar sobre porque optar por uma coisa e não outra, tendo em vista que, se diante da diversidade não posso ter certeza da verdade, ou o orgulho e pretensão do saber ontológico, porque insistir?

Diante disso, um problema que assola minha alma volta e me perturba, a saber, a justificação do meu ainda cristianismo. Essa insistência da qual não consigo me libertar, não por, por vezes, falta de vontade, mas sim uma insistência estética, quando minhas afinidades balançam no ritmo do belo que me move e envolve, duvidas e vontades. Porque insisto na fé em Cristo, se descrente da verdade dessa vez é a dúvida que me coloca diante dele? Tentarei, agora, justificar minha insistente fé, e o significado da mesma.

Minha fé em Jesus não é fruto de um anseio salvifico pessoal, mas do significado poético da salvação de todos que vivem, já viveram e viverão. Da manifestação viva do belo e da humanização do divino, para que o humano pare com a mania de querer divinizar-se e se humanize também. Jesus é a concretude da solução tomada em virtude da fragilidade da criação, contingente e desventurada.

Minha fé em Jesus nada tem a ver com a espera das soluções ou de explicações para as terríveis ameaças da vida do sofrimento ou do caos, mas sim a esperança de que ele simples e unicamente sofre e caminha conosco, mesmo que eu não o saiba, não espere, não creia, não queira.

Minha fé em Jesus nada tem a ver com certeza, com verdade, ou com a desesperada necessidade de limpar a alma e me livrar do inferno, mas sim com valores que me inspiram e me dão forças para continuar caminhando. Nada tem a ver com achar um culpado pelo sofrimento humano, mas de saber que não sofremos sozinhos. Que quando uma criança tem fome, Jesus tem fome com ela, e nos inspira a alimenta-la. Quando o desempregado desesperado por alimentar sua família comete um delito, Jesus não o acusa, mas nos motiva a lutar por justiça, por igualdade, por dignidade.

Meu temor a Jesus nada tem a ver com o a condenação tão defendida pelos religiosos, como se fosse a parte mais importante de sua fé, mas está ligado à concepção que me faz ver Jesus como um conselheiro, o sábio que certamente sabe melhor que eu possibilidades de como viver, já que vivo. Jesus não é um moralista que julga cada passo que dou, mas o amigo que toda vez me estende a mão quando digo “não sei”, e mesmo “errei”, ele não me dá lição de moral, olha feio pra mim ou grita “Seu burro, assim você vai para o inferno!”, Mas olha pra mim com um leve sorriso e diz: “tente não fazer de novo”, porque ele sabe que sabemos que erramos e como nos prejudicamos por causa disso.

Minha fé em Jesus nada tem a ver com a certeza de um destino, e sim em crer que não caminho sozinho. Esta fé, de afinidade e finitude, não de respostas, de paz nem descanso, que pelo contrário, me motiva o inconformismo, a luta, a revolta contra a injustiça, contra o desumano, contra mim mesmo, me motiva, me confronta, me faz pensar sobre o humano que sou, que somos.

Jesus é uma inspiração, é o salvador poético, o belo que salvou o mundo. É a inspiração manifesta em detrimento de toda razão e verdade, em detrimento da insistente necessidade de afirmar-se. Jesus nos libertou da necessidade de ser qualquer coisa. Não precisamos nem mesmo ser cristãos. Suas verdades não estão nos caminhos, nas doutrinas, nas religiões ou nas profecias. Toda sua verdade está em uma palavra, presente em toda língua, em toda cultura, e todo ser humano saber dizer, da sua forma, mesmo que não saiba ao certo o significado, e mesmo que ninguém consiga chegar perto de sua pratica permanente e constante, a saber, o amor.

sábado, 28 de julho de 2012

Palavras

Palavras. É tudo que temos quando queremos dizer algo. Porém, devemos assumir que elas não são suficientes, e que na verdade, são, na maior parte das vezes, enganosas.
As palavras nos fazem acreditar nas coisas, e formam, com base em seus supostos significados, as percepções das coisas que vemos, ouvimos, pensamos, fazemos, enfim, deu pra entender, né?
O grande problema que desejo salientar nisso, caro leitor, são as dificuldades que as palavras nos apresentam. Como posso eu comunicar sentidos se a maior parte das vezes nem mesmo as palavras sabem os sentidos que tem? O melhor que podemos esperar delas são sentidos mal resolvidos, de uma constante crise de identidade, que, mesmo que involuntariamente, também nos deixam confusos e tiram de nós os sentidos que somente elas poderiam nos dar. Afirmo para você, meu amigo, as palavras são as culpadas de toda nossa incompreensão das coisas! Elas não sabem o que dizem!
Não venha me dizer, você que é adepto das escolas de lógica clássica ou matemática, de pensamentos sensatos e corretos, dito assim como você entende o que essas palavras significam, que somos nós que criamos as palavras, e, por conseguinte, a culpa seria nossa, que também criamos seus significados. Pois de minha vez eu te afirmo que as palavras que nos fizeram, nos mudam, nos reinventam e nos destroem! O que de fato, é o que elas fazem de melhor, destruir. Mas existem seres que constroem, as mulheres. Como isso se dá? Explico-te. As palavras nos inventam, nós homens as usamos, e as mulheres é quem dão os sentidos.
Prova disto? Eu lhes afirmo! Eu posso provar! Porque os homens ainda acreditam que são mais racionais que as mulheres, tendo em vista que de fato essa é uma premissa falsa? Eu digo a razão e o nome disso. Eu chamo de burrice, o homem, arrogante, chama de “propriedades do gênero”. E a mulher chama de... Bom, na verdade elas não estão preocupadas em dar um nome para isso, pois quem é de verdade raramente precisa se afirmar.
Como posso eu, caro leitor, atribuir sentido às coisas se nem mesmo as palavras sabem o que elas significam? A não ser, é claro, que uma mulher o diga, pois nem mesmo as palavras ousam questionar uma mulher, sabido que essas, as palavras, sabem que elas, as mulheres, são as que inventam e determinam os significados.
Devo provar também isso? Insistentes esses leitores de hoje em dia...
Prova-te a ti mesmo da minha verdade, e faça o que digo. Discuta sobre o significado do amor com uma mulher. Explique-a todos os significados possíveis! Os termos e seus respectivos significados na língua grega, as origens latinas, e mesmo a chatice do amor no romantismo alemão. Você pode contar todas as histórias sobre todos os conceitos, recitar os mais belos poemas, as maravilhosas histórias de amor contadas pelos grandes gênios da literatura mundial, até mesmo Goethe e Tolstói, que de fato são chatos, e nada poderia ser dito para questiona-los. Tente caro amigo, e você verá!
Ao investir seu precioso tempo a bajular conhecimento e cultura, e do pleno conhecimento do valor ontológico do belo, do gosto e do amor, contando para sua amada todos esses pormenores, ela ficará encantada, ouvirá cada palavra com os olhos brilhantes, que ofuscarão a sua inteligência e você nem mesmo saberá mais o que diz. Sim caro amigo, sim, afirmo-te, se ela disser que não o ama, todos seus sentidos não valerão de nada!
Percebe? Nós homens não sabemos. As palavras, inocentes e usadas por nós, mal entendem do que delas é feito. E as nossas musas, após nos ouvir, e internamente zombar de todo nosso pedantismo e pusilanimidade, simplesmente não nos amam.
Diga-me, meu amigo, quem inventa os significados das palavras?

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Cap XVI - Desventuras no Jazz; contingencias do Blues.


Desventura, amigos, desventura! É Somente disso que se trata a vida, o que não é nada agradável. Certa vez ouvi uma pessoa dizer: “A vida é uma desventura contingente”. E na verdade é exatamente disso que se trata. Imaginem vocês, numa cidade, quanta desventura há de ter. Às vezes é até difícil enxergar a poesia, e mesmo um otimismo forçado, que tenta, por vezes, nos impelir ao belo, não é suficiente para a compreensão de certas coisas, quanto menos o amor, que, talvez ironicamente, é pura poesia, e completa desventura contingente.
Havia um disco que Frank procurou por toda a vida. Daqueles raros que você só ouve dizer, mas ninguém nunca ouviu sequer uma musica, ou mesmo que nunca foi anunciado, mas que você pensa: “nossa, deveria haver um disco assim”. Imaginem um disco do Thelonious Monk tocando com o Bem Webster; é disso que se trata, até onde sei existem apenas tres gravações deles tocando juntos. 
Frank achou seu disco, e a música era linda! Ele não cansava de ouvir, mesmo que a musica estivesse na maior parte do tempo longe. Melhor, a música não estava longe, o som vinha de longe, mas as vibrações eram reais e presentes, como se estivesse com os ouvidos grudados na bateria do Max Roach! Como a musica era real! Vibrante! Forte! Viva! E fazia viver! Mas estava, digamos assim, longe.
Por fim, Frank vivia pensando nesse disco, e em como o queria por perto. Como gostaria de não só ouvir todo dia, mas ver, tocar, e ver, ouvir e tocar, todo dia. Na verdade, o tempo de espera não precisa ser tão longo, ou tão distante no presente, o que não é, para causar tamanha nostalgia. Algumas vezes Frank viajava só para ouvir esse disco. Era puro amor, e como todo bom amor, e como toda boa música, e como todo bom jazz, era sempre carregado de um profundo blues.
O tempo parava. Frank ouvia aquelas canções, e como diz Elizeth Cardoso em uma de suas lindas interpretações: “Se o tempo entendesse do amor, ele parava”. Mas por fim, voltemos à desventura, pois é disso que se trata nossa história.
O anseio de Frank era conseguir trazer esse disco para perto de si, mas muitas sempre foram às dificuldades, e suas tentativas não eram de sucesso, certamente pelo fato de ter feito tudo errado, e como pobre não pode escolher, mas viver o que vem pela sua frente, decidiu entregar-se, por fim, ao acaso. Foi quando veio para a cidade, mas sempre desejando estar perto de seu desejado disco. O disco da sua vida! Como se fosse “Body and Soul” com Monk ao piano, Webster no tenor, Charles Mingus no baixo, Roach na bateria, Roy Eldrige no trompete e Bill Harris no trombone. Imaginem só vocês! Nem seria preciso Wes na guitarra e Mulligan no barítono, pois a simplicidade de poucas sonoridades era totalmente suficiente. A pura negação da vontade, e o ideal Shopenhauriano de gênio absolutamente manifesto em plenitude, como se o a formação grega, de amor e paidéia, fossem completos em uma única melodia, Body and Soul! Como “How Deep is de Ocean”, quando cantada lindamente por Chet Baker, com Paul Desmond acompanhando no sax alto, uma canção profética de esperança.
              Enfim, amigos, era a canção, a musica perfeita! O disco que todo amante da boa e verdadeira melodia, inspirada diretamente pelo belo ontológico que Schiller procurava, é disso que se trata, ou tratava, o disco.
  Bom, não tenho, não sei, muito que dizer sobre isso. Muitas coisas aconteceram, muita musica tocou, e com o passar do tempo, musicas ruins. Mas imaginem só, o tal disco, desejado, esperado como uma relíquia sagrada e inspiradora, a trombeta dos anjos que anunciavam o tempo da plenitude e da real existência, as vezes, em seu intimo, Frank até tinha a ousadia de chamar isso de felicidade, imaginem que, por uma série de motivos, o disco não poderia mais tocar para Frank. Pelo menos ao que tudo indica, pelo que parece, e como os fatos aparecem, e a desventura injustamente rege o mundo, e  contingentemente tenta matar a esperança, e tudo que a alimenta, o disco estará na cidade, e haveria de chegar! Diabos!
            Mas as coisas são diferentes, nenhuma musica toca tanto o coração de Frank, não parece haver outra canção que o faça sentir pleno de jazz, blues, e samba ao mesmo tempo. Conseguiram destruir, desgastar, romper, o mais belo fenômeno humano, e cada vez mais raro. Parecia não haver mais poesia.
           Sim amigos, o mundo é grande, e muita musica já foi e há ainda de ser gravada. É como o amor que Liêvin teve por Kitty em Ana Karênina de Tolstói, é como... Como, enfim. Uma musica que talvez não possa mais ser ouvida. Desventura e contingencia, amigos. Somos largados nesse mundo, deixados, e soprados como plumas, pelo amor. Mas também pelo amor voa, e só voa, sem sentido, sem destino.
          Para o inferno com esse amor! Poderia dizer Frank. Pois, qual outra versão de Solitude é melhor que a interpretada por Billie Holliday? Acaso é possível viver sem Jazz e sem Blues? Muito ainda teria que acontecer para acabarem de vez com a esperança de nosso herói.
              Veremos o que a cidade nos guarda.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Utopia


Jesus pra mim é uma inspiração! É um Deus poético, desprovido da necessidade de ser verdade. Esperança é o que faz caminhar, e não algo que devemos esperar.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Capitulo IV: O profeta


          Tudo que é criado cria, pois tudo que é livre é e faz ser. O ser se faz e fabrica. Autonomamente tudo que dele sai por conseguinte se faz, desde que seja livre.
         Idea era livre, filho direto da liberdade. Ele também criava livremente. Porém, odiava a mentira tanto quanto nunca havia pensado em estar certo, pois é óbvio, ele não precisava disso. Não há necessidade na liberdade, tanto quanto não há razão no que diz ser conhecedor da verdade. Ideia nunca tinha ouvido a mentira, pois a verdade ainda não havia sindo inventada.
              Até que da liberdade do ser que se fez e a sinfonia iniciada por Som começou a se fazer de forma livre, desprovida de sentido, sozinha, se fez e continua a se fazer, talvez hoje não mais tão livre. Pois poucos escutam.
  Ideia caminhava, quando encontrou em seu caminho um perdido, ao que lhe perguntou carinhosamente:
- Nunca o vi antes, quem, ou o que, é você?
- Não sei ao certo – respondeu a estranha figura – Creio que me foi revelado quem sou, mas ainda não entendi.
- Interessante, nunca havia conversado com um semelhante antes – disse Ideia – Bom, me chamo Ideia, e eu existo.
- Existir, isso se chama palavra, não é mesmo? – indagou o estranho como se tivesse entendo algo, ao que respondeu Ideia.
- Sim, é uma palavra, as palavras tem sentidos, por isso as usamos para dizer coisas.
- Compreendo. Logo, se existir é uma palavra e palavras tem sentidos, deve haver um sentido em existir, não é?
- Nunca precisei pensar nisso – disse Ideia um tanto confuso – pois nunca achei necessário ter sentido para existir além do fato da palavra nos dizer que existirmos, pois Som não me disse sentido, apenas me deu as palavras.
- Quem é esse Som? – Perguntou o perdido.
- Não sei dizer. Creio que Som é quem ele for pra você. Temo que deva te devolver a pergunta.
- Eu não sei nem quem sou, tão pouco esse Som. Porém, eu acho que mesmo assim eu o ouço.
- Como?
- Oras, tenho ouvido, mas não sei se entendo o tom de sua música.
- Som nunca me disse um tom, apenas me ensinou a fazer notas para que eu possa também tocar – respondeu Ideia.
- Sim, pois também buscarei minhas notas. Porém, eu saberei as notas certas! Eu terei domínio sobre os significados e conhecerei o tom de Som. Não mais precisarei buscar, apenas responderei. Assim que descobrir todos os segredos que circundam os significados e as notas.
- Mas não creio que seja necessário todo esse esforço, que por sinal, me parece inútil - Ideia respondeu com afinco – pois Som espera apenas ser ouvido, percebido. Sem sentido! E, se for o caso, que toquemos também uma melodia. Não há necessidade de sentido. De razão.
- Pois para mim isso é muito pouco – respondeu o perdido, de forma arrogante - Eu não somente descobrirei o sentido, assim como os ensinarei a todos sobre o nome de verdade. De agora em diante me chamo profeta e direi não somente o significado do tom de Som, mas também como a melodia deve ser tocada.            
Ideia ficou assustado diante de seu novo companheiro. E aquele que poderia ser, talvez, seu grande amigo, ao ponto de criarem belas melodias, percebendo assim, a existência, passou a representar o medo da insensibilidade. Ideia percebeu que profeta daria trabalho, e que Som poderia não ser mais tão simplesmente escutado e percebido.