segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Sobre felicidade e esperança. Cultura e utopia.

              Há muito que devo um texto sobre a felicidade, assunto caro pra mim, e também sobre a esperança, assunto que ganhou lugar em meus pensamentos no ultimo ano. De certo que sou conhecido pelo pessimismo e não crença na felicidade, porém, nesses últimos três anos, em que muitas coisas resignifiquei ou mesmo passei a tentar significar, esses conceitos passaram a ser fundamentais em minha formação. A felicidade nem tanto, pois essa apenas resignifiquei para excluir de meu vocabulário. Mas a esperança, essa sim, veio com força, me trazendo vida.    
            Minha visão de felicidade mudou quando, na segunda metade de 2011, li o romance “Vida e Proezas de Aléxis Zorbás” ou “Zorba, o grego” do escritor Nikos Kazantzákis.          
            Mais ou menos no meio da história, o narrador, chamado também por Zorba de “patrão”, recebe uma carta de um antigo amigo chamado Karayiànnis, também grego, dando noticias. Para entender a história, fica a dica da leitura, vamos ao que importa que é parte do conteúdo da carta, em que Karayiànnis diz ao “patrão”:   

Percorro cidades e aldeias, reúno os gregos, faço relatórios, telegrafo, empenho-me para convencer as autoridades a nos enviarem barcos, alimentos, roupas, remédios e a conduzirem todas essas almas à Grécia. Se lutar com tanta obstinação é felicidade, então eu sou feliz.   


            Aparentemente, o romance não deixa claro, Karayiànnis era voluntario em algum lugar da Rússia, em plena guerra, e estava tentando libertar seus compatriotas gregos fazendo-os voltar para sua terra natal. A grande questão que me chamou a atenção é que felicidade para Karayiànnis é luta, é fazer algo, mas não por ele mesmo. Poderia dizer que esta luta fazia-o sentir-se pleno do ser, ou seja, a felicidade seria a realização plena de sua existência, e isso não tem a ver consigo mesmo, mas com os outros, seus compatriotas.       
            Deixando um pouco de lado a história, que você pode ler adquirindo o livro. Vou me ater ao que quero dizer. Felicidade, nesse sentido, nada tem a ver com algo bom para si, algo que de alegria, bem estar, satisfação ou realização pessoal, enfim, todo tipo de futilidade narcisista e egoísta tida no mundo do capital como alvo principal da existência. Felicidade seria a plena realização da existência, com base no principio do amor, que sugere a vida para fora, ou seja, a vida para além de si mesmo. Se considerar nesse sentido, posso alterar o termo “felicidade” por “existir plenamente” ou simplesmente “amar”. Quem pensa seriamente no amor sabe que essa é uma experiência mais “ruim” que “boa”. O amor não oferece garantia de nada, não promete resultados positivos, satisfação ou realização, amar está mais para “realizar-se para o outro”, sem garantia de retorno. Não preciso dizer que o melhor exemplo do que digo é Jesus Cristo. Logo, em resumo, todo ideal de felicidade que sugere satisfação própria, realização, alegria, contentamento etc. pode ser jogado no lixo, no esquecimento, pois é uma palavra totalmente inútil, fútil, burra.           
            Mas o que isso tem a ver com esperança? Logo vos digo!  
           Da mesma forma como felicidade não é algo bom para si, esperança não é otimismo. Acho que já escrevi aqui sobre isso, mas, esperança é tomar uso da liberdade para lutar por algo do qual não se espera sucesso. Esperança não é esperar por algo que já se sabe que vai dar certo, mas justamente o contrário, é lutar mesmo sem saber os resultados, tendo em vista, no mínimo, que ninguém sabe os resultados, pois a vida é contingente. O problema, penso eu, é que a cultura moderna, moldada pelo capital e pelo egoísmo, natural do humano mas alimentado pelo narcisismo engendrado no homem pela cultura do capital e do consumo, da realização de si mesmo, de seus interesses (outro problema), é uma cultura burra. A modernidade conseguiu construir uma cultura sem esperança, sem busca por respostas, sem vontade de luta. Uma cultura onde o que mais importa é o riso, ver uma novela idiota, um filme sem sentido, uma revista de fofoca, fazer compras inúteis, desnecessárias, enfim, uma cultura onde o que importa é satisfazer a si mesmo, chamando isso felicidade.    
            No marxismo a culpa será dada ao modelo econômico, mas considero, a partir do que alguns chamam de culturalismo, que o sucesso do modelo econômico vigente tem base na consolidação de dessa cultura burra, alienante. Logo, para mudar uma pessoa, para mudar uma sociedade, deve-se educar e construir uma nova cultura. Sobre essa cultura ideal vale outro texto, pois trato da cultura estética por meio da educação do gosto, mas deixemos isso pra depois.          
            Mesmo que tratando de forma ridiculamente reduzida, e claro, mesmo não sendo nenhuma novidade, vale dizer. O mundo fica pior à medida que as pessoas desistem da utopia, param de sonhar, se satisfazem com suas realidades medíocres e se divertem com seus entretenimentos efêmeros. Uma cultura transformadora caminha em direção a um horizonte utópico, por meio da esperança, de luta e de sonhos. Não haverá um mundo melhor enquanto a cultura for medíocre.          
            Logo, caros amigos, deixemos de buscar a felicidade burra e passemos a ter esperança, legado maior deixado por Jesus Cristo. Considero serem esses os primeiros passos para nossa reeducação e humanização, com meta à utopia, à justiça, à liberdade, e ao amor.      
            E antes de me chamar de hipócrita, pois de certo que não manifesto infimamente isso que escrevi, não se esqueça, caminhemos rumo ao horizonte utópico!

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