terça-feira, 21 de agosto de 2012

Dor de poeta

Um poeta, ao não ter com quem compartilhar sua dor
Cria um Deus para si, e este certamente o ouve
Pois o Demônio, quando toma nossa alma
E todo nosso corpo sente falta do amor
Toda voz se cala nesse mundo
E o amor, que é a única verdade
Nos faz desejar que fosse uma mentira
E grita em mim a vontade de ter por perto
Você que é a razão e inspiração de tudo que digo

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Palavras Tolas

Melhor esquecer o que faz sofrer?
É possível começar de novo?
Culpa, toda culpa pertence a quem fala
Todas as palavras são tolas
Tudo que digo é tolo
Nem mesmo Deus eu sei se escuta mais minhas lamurias
Envergonha-se da criação, de minhas palavras

O sol se apaga ao me ouvir
A lua perde seu brilho
Os olhos verdes da natureza se fecham diante das inutilidades de meu pensando
Tudo que digo está errado
É possível começar de novo?
A felicidade nunca me fez sentido
Agora tão pouco a alegria
E todo riso me parece uma blasfêmia
Viver é cada vez mais insuportável
Porque amar é uma doença mortal
Nos faz errar em tudo
Mesmo quando acertar é tudo que queremos
Esforçar-se! Diga!
Mas toda palavra é tola
Tudo que digo se estraga
Porque sinto tudo estragado, errado
Os pássaros podem voar todo o céu
Mas voam junto aos seus
Vez para o sul
Vez para o norte
Também assim, as palavras do tolo não tem lugar
Ninguém as aceita
Pelo menos os pássaros são belos

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Logos

Quem pode nomear as amarguras das ideias?
Acaso o verbo já as deu sentido?
Como amar o que diz quem sou antes mesmo que seja?
Preferia eu ser livre!

Mas por ser livre faço uso de minhas entranhas
Não às venha ferir com julgamentos de pureza!
Se o Verbo nos impões seus sentidos
Dou a ele os adjetivos que merece

Todo perdão é necessário
Para quem não se contém na sinceridade
O que é dito ao silencio não tem valor
Poucas palavras servem para expressar certas dores

Acuse o fiel!
Mas não por tentar calar o Verbo
Sou culpado por ainda querer que me diga alguma coisa
Devo pagar o preço da solidão?

Palavras! Julgue-me verbo criador!
Por desejar que faça algum sentido pra mim
Odeio-te se me condenas
Mas amo-te por ser livre comigo

domingo, 12 de agosto de 2012

Agon

            Gritos! Não se ouvem, mas ensurdecedores são aos ouvidos de quem grita. Cacos! Tudo que fica pelo caminho, e fura os pés de todos que pelo caminho. O peregrino não tem somente um livro para o guiar, mas por sua vez, tentava sempre ser fiel às suas sensações.
A princípio é natural ao ser buscar certezas e se convencer de suas verdades. E alguns assim permanecem todos seus dias, como gelo seco na caixa de isopor do vendedor de picolé numa bela praia em escaldante dia de verão.
Assim também é o peregrino. Mas não sabe ele que seus caminhos deixam buracos, e suas sinceridades, feridas. O que acaba por descobrir, aprofundando assim, em seu percurso, por adoecer mais e sentir pior e fortes dores em suas erupções.
Sensação perpétua, a de estar colhendo seus cacos. Tudo que fora, e que já vislumbra mais uma vez mudar, deixava em seus caminhos pedaços confusos de si mesmo. É como se viver fosse uma arte constante de tentar resolver algo pendente. Os cacos não findam, suas questões ressurgem, e como fugir não era uma opção, o que fazer dos cacos? Certamente a resposta é ferir-se!
Amedronta-te até mesmo o cão selvagem diante da incerteza do dia por vir, pois os homens o destituíram de seus alimentos ao queimar a mata, seu habitar natural. Porém, pior que isso, é privar o animal de sua liberdade de caçar. Também o homem, afinco ao dispor de sentidos, aborta-te a mente a necessidade da verdade conhecer, essa que não combina com o belo, com o sublime tão pouco.
Liberta-te escravo da razão, e perceba! Grite ao catar seus cacos! Não faz sentido tentar encaixar paralelepípedos no chão. O belo e o sublime estão dispostos em tudo que se pode conhecer, desde que a nobreza do espírito, de forma vivaz, não somente contemple a beleza, mas tenha seu coração transbordado de inconformismo. Arranque de teu coração a necessidade de ser, para que não seja se não para o outro, eis um projeto nobre de vida. Agoniza-te! Projeto infeliz e inalcançável! Porém, somente os fracos desistem antes da morte!
Para caminhar é necessário estar disposto à solidão, porém, nunca se deve a esta se conformar. Considere-se a isso, portanto, o fato de que a companhia do peregrino são as pessoas que encontra pelos caminhos, certo de que, mesmo assim, sozinho nunca estará, tendo em vista que toda culpa se expia nesse mundo.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Porque Insisto em Cristo


Aeroporto sempre é um lugar de bastante reflexão. Mesmo antes do embarque, e do voo para o devido destino, o prelúdio da bela visão que terei do céu, em razão do belo tempo adianta em mim a mesma reflexão de sempre, aquela que embala minha mente, me tira o sono, ou me dá vontade de logo dormir na esperança de que em sonho eu me veja melhor.

Olhar toda sorte de estereótipos de pessoas, rumando para os mais diversos lugares, sempre me faz refletir sobre as infinitas possibilidades do ser, o que obviamente nos remete a critica do ser que somos, ou seja, nossas opções, nossas opiniões, e por fim, dúvidas e crenças. O olhar para diversidade me faz pensar sobre porque optar por uma coisa e não outra, tendo em vista que, se diante da diversidade não posso ter certeza da verdade, ou o orgulho e pretensão do saber ontológico, porque insistir?

Diante disso, um problema que assola minha alma volta e me perturba, a saber, a justificação do meu ainda cristianismo. Essa insistência da qual não consigo me libertar, não por, por vezes, falta de vontade, mas sim uma insistência estética, quando minhas afinidades balançam no ritmo do belo que me move e envolve, duvidas e vontades. Porque insisto na fé em Cristo, se descrente da verdade dessa vez é a dúvida que me coloca diante dele? Tentarei, agora, justificar minha insistente fé, e o significado da mesma.

Minha fé em Jesus não é fruto de um anseio salvifico pessoal, mas do significado poético da salvação de todos que vivem, já viveram e viverão. Da manifestação viva do belo e da humanização do divino, para que o humano pare com a mania de querer divinizar-se e se humanize também. Jesus é a concretude da solução tomada em virtude da fragilidade da criação, contingente e desventurada.

Minha fé em Jesus nada tem a ver com a espera das soluções ou de explicações para as terríveis ameaças da vida do sofrimento ou do caos, mas sim a esperança de que ele simples e unicamente sofre e caminha conosco, mesmo que eu não o saiba, não espere, não creia, não queira.

Minha fé em Jesus nada tem a ver com certeza, com verdade, ou com a desesperada necessidade de limpar a alma e me livrar do inferno, mas sim com valores que me inspiram e me dão forças para continuar caminhando. Nada tem a ver com achar um culpado pelo sofrimento humano, mas de saber que não sofremos sozinhos. Que quando uma criança tem fome, Jesus tem fome com ela, e nos inspira a alimenta-la. Quando o desempregado desesperado por alimentar sua família comete um delito, Jesus não o acusa, mas nos motiva a lutar por justiça, por igualdade, por dignidade.

Meu temor a Jesus nada tem a ver com o a condenação tão defendida pelos religiosos, como se fosse a parte mais importante de sua fé, mas está ligado à concepção que me faz ver Jesus como um conselheiro, o sábio que certamente sabe melhor que eu possibilidades de como viver, já que vivo. Jesus não é um moralista que julga cada passo que dou, mas o amigo que toda vez me estende a mão quando digo “não sei”, e mesmo “errei”, ele não me dá lição de moral, olha feio pra mim ou grita “Seu burro, assim você vai para o inferno!”, Mas olha pra mim com um leve sorriso e diz: “tente não fazer de novo”, porque ele sabe que sabemos que erramos e como nos prejudicamos por causa disso.

Minha fé em Jesus nada tem a ver com a certeza de um destino, e sim em crer que não caminho sozinho. Esta fé, de afinidade e finitude, não de respostas, de paz nem descanso, que pelo contrário, me motiva o inconformismo, a luta, a revolta contra a injustiça, contra o desumano, contra mim mesmo, me motiva, me confronta, me faz pensar sobre o humano que sou, que somos.

Jesus é uma inspiração, é o salvador poético, o belo que salvou o mundo. É a inspiração manifesta em detrimento de toda razão e verdade, em detrimento da insistente necessidade de afirmar-se. Jesus nos libertou da necessidade de ser qualquer coisa. Não precisamos nem mesmo ser cristãos. Suas verdades não estão nos caminhos, nas doutrinas, nas religiões ou nas profecias. Toda sua verdade está em uma palavra, presente em toda língua, em toda cultura, e todo ser humano saber dizer, da sua forma, mesmo que não saiba ao certo o significado, e mesmo que ninguém consiga chegar perto de sua pratica permanente e constante, a saber, o amor.