A
princípio é natural ao ser buscar certezas e se convencer de suas verdades. E
alguns assim permanecem todos seus dias, como gelo seco na caixa de isopor do
vendedor de picolé numa bela praia em escaldante dia de verão.
Assim
também é o peregrino. Mas não sabe ele que seus caminhos deixam
buracos, e suas sinceridades, feridas. O que acaba por descobrir, aprofundando
assim, em seu percurso, por adoecer mais e sentir pior e fortes dores em suas
erupções.
Sensação
perpétua, a de estar colhendo seus cacos. Tudo que fora, e que já vislumbra
mais uma vez mudar, deixava em seus caminhos pedaços confusos de si mesmo. É
como se viver fosse uma arte constante de tentar resolver algo pendente. Os
cacos não findam, suas questões ressurgem, e como fugir não era uma opção, o
que fazer dos cacos? Certamente a resposta é ferir-se!
Amedronta-te
até mesmo o cão selvagem diante da incerteza do dia por vir, pois os homens o destituíram
de seus alimentos ao queimar a mata, seu habitar natural. Porém, pior que isso,
é privar o animal de sua liberdade de caçar. Também o homem, afinco ao dispor
de sentidos, aborta-te a mente a necessidade da verdade conhecer, essa que não
combina com o belo, com o sublime tão pouco.
Liberta-te escravo da razão, e perceba! Grite ao catar seus cacos! Não
faz sentido tentar encaixar paralelepípedos no chão. O belo e o sublime estão dispostos
em tudo que se pode conhecer, desde que a nobreza do espírito, de forma vivaz, não
somente contemple a beleza, mas tenha seu coração transbordado de
inconformismo. Arranque de teu coração a necessidade de ser, para que não seja
se não para o outro, eis um projeto nobre de vida. Agoniza-te! Projeto infeliz
e inalcançável! Porém, somente os fracos desistem antes da morte!
Para
caminhar é necessário estar disposto à solidão, porém, nunca se deve a esta se
conformar. Considere-se a isso, portanto, o fato de que a companhia do
peregrino são as pessoas que encontra pelos caminhos, certo de que, mesmo assim,
sozinho nunca estará, tendo em vista que toda culpa se expia nesse mundo.
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