domingo, 12 de agosto de 2012

Agon

            Gritos! Não se ouvem, mas ensurdecedores são aos ouvidos de quem grita. Cacos! Tudo que fica pelo caminho, e fura os pés de todos que pelo caminho. O peregrino não tem somente um livro para o guiar, mas por sua vez, tentava sempre ser fiel às suas sensações.
A princípio é natural ao ser buscar certezas e se convencer de suas verdades. E alguns assim permanecem todos seus dias, como gelo seco na caixa de isopor do vendedor de picolé numa bela praia em escaldante dia de verão.
Assim também é o peregrino. Mas não sabe ele que seus caminhos deixam buracos, e suas sinceridades, feridas. O que acaba por descobrir, aprofundando assim, em seu percurso, por adoecer mais e sentir pior e fortes dores em suas erupções.
Sensação perpétua, a de estar colhendo seus cacos. Tudo que fora, e que já vislumbra mais uma vez mudar, deixava em seus caminhos pedaços confusos de si mesmo. É como se viver fosse uma arte constante de tentar resolver algo pendente. Os cacos não findam, suas questões ressurgem, e como fugir não era uma opção, o que fazer dos cacos? Certamente a resposta é ferir-se!
Amedronta-te até mesmo o cão selvagem diante da incerteza do dia por vir, pois os homens o destituíram de seus alimentos ao queimar a mata, seu habitar natural. Porém, pior que isso, é privar o animal de sua liberdade de caçar. Também o homem, afinco ao dispor de sentidos, aborta-te a mente a necessidade da verdade conhecer, essa que não combina com o belo, com o sublime tão pouco.
Liberta-te escravo da razão, e perceba! Grite ao catar seus cacos! Não faz sentido tentar encaixar paralelepípedos no chão. O belo e o sublime estão dispostos em tudo que se pode conhecer, desde que a nobreza do espírito, de forma vivaz, não somente contemple a beleza, mas tenha seu coração transbordado de inconformismo. Arranque de teu coração a necessidade de ser, para que não seja se não para o outro, eis um projeto nobre de vida. Agoniza-te! Projeto infeliz e inalcançável! Porém, somente os fracos desistem antes da morte!
Para caminhar é necessário estar disposto à solidão, porém, nunca se deve a esta se conformar. Considere-se a isso, portanto, o fato de que a companhia do peregrino são as pessoas que encontra pelos caminhos, certo de que, mesmo assim, sozinho nunca estará, tendo em vista que toda culpa se expia nesse mundo.

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