terça-feira, 13 de setembro de 2011

Capítulo XI - Palavras no Caminho

    A noite fala comigo o que não falam todas as pessoas enquanto brilha o dia. Já algum tempo aqui sozinho, continuo me encontrando comigo mesmo, e claro, nunca completo. Foi-se o tempo em que as coisas diziam alguma coisa, e depois de tanto tempo, parece que inutilmente pensei isso, pois não diziam nada de verdadeiro, apesar de certamente, terem sido importante para minha constante formação.
    Continuando à noite, quando o barulho não é bem vindo, eu não posso tocar o violão ou escutar uma boa música, sem incomodar meus inoportunos companheiros; e mesmo que fosse possível ouvir uma bela canção em segredo, o que desventuradamente não o é mais, eu não o faria, pois meus ouvidos ainda estão cansados.
    O que uma palavra significa, ou pode significar, na verdade não diz nada quando em solidão você não se lembra de algum momento em que ela esteve presente. Nesse sentido, a ausência de pessoas me traz muitas palavras. É comum dizer que você pode estar sozinho mesmo no meio de uma multidão, isso apesar de verdadeiro, não é mais importante, pois as pessoas nunca saem de perto quando deixam com você alguma palavra, e com isso, todo tipo de gente ainda está comigo, mesmo aqueles que hoje me odeiam, ou não pensam mais em mim, e se pensam, com menosprezo, rancor, ou seja lá o que for. Gostaria de dizer que toda palavra fica guardada em um local, e só volta a noite, quando não existe mais ódio, apenas o puro sentimento humano da melancolia e desventura.
    Pensar sobre todo o ser, e que já se foi, relembrar, saudar-se, desnudar-se do hoje, é encontrar a si mesmo no mais puro intimo esconderijo do seu ser, e ter vergonha de si mesmo quando lembra de algo que mais ninguém sabe, rir diante do que todos sabem hoje, sendo verdade ou não; afinal de contas, o verdadeiro e o falso são amigos que se divertem e apostam vendo agente brigar, só eles ganham com isso.
    Enfim, como sempre, agoniado está meu coração, na presença de tantas palavras e pensamentos, com a ausência de certezas que me abandonaram, e na presença de dúvidas que tento ignorar, pelo menos por enquanto. Ainda ameaçado pela incerteza que nunca me abandonou, apesar de já ter tido sonhos mais seguros, ainda comigo mesmo está o verbo, seja lá o que for que ele signifique.

2 comentários:

  1. não sei o que comentar, além de 'gostei'... talvez possa dizer que você não é o único a passar por isso.

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  2. concordo com Bruna, estamos todos no mesmo barco. Gostei muito do texto.

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