quinta-feira, 28 de julho de 2011

Capitulo IX: O Inútil

- Você tem uma coisa que ninguém que eu conheço tem.
De modo sarcástico sério e irônico ao mesmo tempo, não sabendo o que estava por vir, Frank perguntou:
- Você conhece muita gente?
Ainda levando sua prosa a sério, sua então colega de trabalho respondeu secamente, como se isso não importasse:
- Não.
E continuou com seu estranho comentário:
- Você tem uma coisa que ninguém que eu conheço tem. Você é sincero o tempo todo, pelo menos é o que você me passa, é o que me parece.
Frank poderia se sentir bem com aquele comentário, poderia, talvez, se gabar de alguma forma, por talvez ser isso uma boa coisa em seu caráter, mas na verdade ele se sentiu, de alguma maneira, algo que poderíamos definir como culpado, pois ele não achava muita utilidade em sua constante sinceridade, nem mesmo achava que ela fazia bem a alguém, mas mesmo assim ele perguntou:
- Você acha mesmo? E você acha isso bom?
- Sim, é muito raro, e eu não tenho medo da verdade
Entendendo o que sua amiga disse, Frank comentou:
- Gente que não tem medo da verdade também é rara.
A conversa continuou por caminhos de menor importância. E apesar de seu sorriso falso e descontraído, que não conseguia enganar nem mesmo sua colega, que o conhecia minimamente, Frank se sentia, no fundo, muito incomodado com aquele comentário, e pensou na verdadeira utilidade de tua sinceridade.
Algo já vinha incomodando Frank em uma conversa anterior. E pensou:
- Um homem sem esperança, talvez não deva falar nada. De que servem idéias que não faz alguém se sentir melhor? Mesmo que a esperança, talvez, seja uma mentira, de que serve ir contra ela, se a mesma causa algum bem?
Uma melancolia terrível tomou conta de Frank, e tal ponto dele pouco perceber o que estava a sua volta, e como de costume ele penetrou em si mesmo e sofreu. Suas divagações o levaram a lugares obscuros em seu próprio ser.
- Um homem sem esperança não tem nenhuma utilidade. Este deve, já que vivo, esconder-se do mundo e não o contaminar com seu câncer, pois o mundo de mais sofrimento não precisa. O homem que não tem esperança deve se isolar do mundo, escondido e longe de todos escrever seus motivos, dedicá-los a uma pessoa de maior confiança, com uma carta de despedida. Melhor é o sofrimento de sua ausência, sentido pelos que o amam, que o sofrimento causado pela sua presença, que contamina e desanima qualquer espírito.
Alguns podem dizer ou pesar que a esperança é uma escolha, Frank acreditava que a esperança era apenas continuar. Ter esperança era apenas tentar, não tinha haver com resultados, fins ou motivos, mas apenas o ímpeto que o levava a tentar, talvez somente por necessidade, mesmo que não fosse, para ele, necessário viver.
Frank estava completamente convicto de seu destino solitário, certamente não porque queria, mas ele se sentia mais um incompatível, mas um daqueles que não tem lugar, e o motivo era sua falta de esperança, que o tornara, em sua atual concepção, completamente inútil para o mundo.

Eu só sei que não me sinto bem
Eu só sei que não me sinto bem
Mas a força, eu não sei de onde vem

Essa força eu não sei de onde vem
Essa força eu não sei de onde vem
Mas sei que mentir pra si mesmo não faz bem

Sem esperança é possível fazer o bem?
Sem esperança é possível fazer o bem?
Eu não sei de onde essa força vem

O homem sem esperança pode ter forças para lutar
O homem sem esperança pode ter forças para lutar
Mas não se sabe quem, com ele, poderá caminhar

4 comentários:

  1. frank realmente é a pessoa mais sincera que eu conheço tb, e gosto disso. mas sinceridade as vezes não precisa ser igual a falar o que quiser quando quiser.

    eu já disse que frank não precisa ficar solitário.

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  2. O personagem é meu e a história é minha...kkk

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