domingo, 10 de julho de 2011

Capitulo VII. O derrotado

      Frank, ouvindo aquela bela e preferida versão de body and soul, com Teddy Wilson Gene Krupa e Benny Goodman de 1935, andava pela avenida diferente do que de costume. Seus passos eram lentos, não parecia ter pressa de voltar para o que se dizia, ainda, seu lar. Há algum tempo não havia em seu espírito disposição para pensar e olhar à sua volta. Na verdade, ele ainda não tinha, ou tem, disposição como queria. Havia motivos específicos para sua melancolia naquele amanhecer.
      É algo terrível para um homem, digo, ser vivo, ter que ser mesmo não querendo, e não poder ter o que quer mesmo sendo justamente aquilo que acha ser necessário para não ser mais. Frank sentia em seu espírito que tentam tirar dele o que ele já não tem mais, e pareciam estar conseguindo. O ser humano é terrivelmente cruel quando acredita tanto em algo que se torna o maior idiota de todos, e certamente o ladrão parecia, para Frank, um grande idiota da pior grandeza. Nada pessoal, mas a arrogância do que crê estar certo pode sugar todo o vigor de um espírito que procura se esconder para ser vivo.
     8ª graus, era essa a temperatura marcada no termômetro da rua. Seu coração, apesar de batendo, parecia congelado, não pela falta de vida ou de ímpeto, como gostava de chamar, mas por ter sua criatividade castrada, seu amor e todo ímpeto puro, motivado pela mais limpa vontade, terrivelmente petrificada pelo gélido esbaforido da terrível vaidade do saber e querer estar certo, que corrompe e atrasa o desenvolvimento de todo o ser. Frank só queria poder não ser em paz, e poder não ser sem estar sozinho. 


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