sábado, 25 de fevereiro de 2012

Cap XV - Saudosa Existência

Frank estava olhando para a parede, esta por sua vez verde, mas não porque era pintada desta cor, e sim porque estava com fungos, de modo que quase todo aquele lado da parede assim se encontrava. De certo que aquilo não o incomodou em nada, já tinha visto coisas piores, mas a parede o fez lembrar, calcular, todas as desventuras que havia passado, e considerar com verdade o que havia pela frente. De fato as dificuldades que via pela frente pareciam ser, em alguns sentidos, mais fáceis, mas a agonia era a mesma, ele ainda tinha que ser, fazer, ter, e buscar muitas coisas. E isso o incomodava muito.   
            Ele havia viajado e retornando para “casa”. Durante uma turbulência, como de praxe, pensou sobre a morte. Frank costumava não se importar com o estado de vida ou não, para ele o nada absoluto, a ausência total de consciência, seria um descanso merecido, o verdadeiro descanso que toda alma angustiada merece, a total ausência de ser; porém, caros leitores, o que o amor não pode mudar na cabeça de um homem?    
            Frank considerava basicamente três possibilidades a respeito da eternidade de sua alma. A primeira era a que ele aprendeu em sua infância, que depois de morto ele poderia ir para céu ou para inferno, dependendo de suas opções espirituais, o que no caso não é nosso assunto aqui. Outra opção, que de fato não o agradava, era a de reencarnar e aperfeiçoar-se constantemente, como ensinam na maioria das doutrinas espíritas. Essa opção de fato não agradava Frank, porque como ele dizia, preferia não ter nascido nem essa vez, quanto menos voltar várias vezes, isso seria mais um castigo! Frank considerava mais razoável, o que te causava afinidade, e que era coerente ao seu costumeiro estado de espírito, que, após a morte, todo homem some, encontra o nada absoluto, a ausência total de consciência. Pois, para ele, o que de bom encontrou na vida não faria falta, e o que de ruim existe em viver, não mais existiria. Certamente que esse tipo de reflexão leva o homem a pensar na validade da vida. Ele poderia ver a vida como algo bom? Certamente que não! Poderia ver como um presente? Difícil, pois, de fato, preferia não ter nascido. Nenhum argumento espiritual, religioso, dava-o motivos para mudar essas ideias, até mesmo os que ele próprio havia criado. Mas apenas um sentimento o fez refletir e questionar, em alguns aspectos, o que poderia fazer da vida algo tão precioso, que o poderia causar saudade, sentir falta de viver; algo que ate aquele momento nunca havia passado pela cabeça de Frank.            
        O que causa no homem a mais plena sensação de vida? A completa realização do ser? A transbordante consciência de si mesmo e do outro como um todo unido, com sentido? Essas sensações são possíveis apenas à pessoa que ama! Frank considerou, com base no que sentia, que sentiria saudade de amar. Sim, o mesmo amor que o faz sofrer, que a angustia, que poucas vezes o alegre, porque de fato, o verdadeiro amor faz mais sofrer; porém caros amigos, esse amor era a única coisa que fazia nosso herói aceitar a vida, e pela primeira vez, considerar que é melhor existir que o nada. Isso não significa que viver é bom, isso não significava, para Frank, que a vida é um presente; para Frank, amar é, simplesmente, a única coisa que faz a vida ser melhor que a morte. Que tipo de amor? Todos! Qualquer amor, qualquer forma, aquele verdadeiro, que fez seu coração bater com sentido, onde cada pulsar de sangue faz você considerar que o tempo sem amor é um desperdício sem perdão. Frank entendeu, esteve disposto a viver, única e exclusivamente por isso, por amar.    
            Vejamos, amigos leitores, pense conosco,
nosso herói desventurado, e eu, seu narrador. Existe desafio maior, dificuldade maior, tarefa mais difícil e nobre que essa? Amar o mundo, amar as pessoas, entregar-se ao Eros! Não há! Não existe maior desafio! Religiosidades impõem ao ser humano a necessidade de ser muitas coisas, a necessidade de buscar níveis que nenhum Deus jamais consideraria para sua criação, tendo em conta ser ele conhecedor de toda limitação do que fez. Nenhum arquiteto joga sobre seu prédio mais peso que ele saber as estruturas poderem suportar. O agente criador de todas as cosias, o Som, o compositor de toda bela musica, espera de nós somente uma coisa, essa ensinada por todos os grandes profetas, os verdadeiros lideres espirituais, o principal, único e verdadeiro valor de toda a espiritualidade, o amor. Toda e qualquer exigência além desta é inútil, e só atrapalha a busca utópica da única coisa que importa. Garanto-vos, meus amigos, o mais conhecido de todos os mestres ensinou isso, basta recordar, amar a Deus sobre todas as coisas, e o próximo como a si mesmo, porém, os dois tem o mesmo valor, é impossível amar a Deus e não amar ao próximo! Mas amando o próximo, de pronto nosso amor vai a Deus, pois o amor vem do espírito, o amor é o selo que nos torna arte, é a nota mais bonita no solo do talentoso e maior músico. Não há outra coisa que precisemos fazer, a não ser tentar amar. Ó quão impossível é esse fardo, como é desafiador! Tomaria todo nosso tempo, e mesmo assim nunca o alcançaríamos por completo! E ainda querem mais de nós? Não! Não percamos nosso tempo!   
            Sim caros amigos, leitores também desventurados, sofredores desse mundo injusto, caótico, angustiante e tudo o mais. Nada do que é ruim é justificável pela eternidade, e nada do que é bom tem valor, a não ser que seja pelo amor. Frank sentiria falta da vida, pois ele amava, fora isso, de certo que a vida não teria, não tem, absolutamente, nenhum valor.

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