quarta-feira, 6 de abril de 2011

Capitulo I: O nascimento de Ideia

Havia somente neblina, uma fumaça branca e muito densa, como uma parede, ou mais, como ferro. Mas não era dura, quer dizer, não era sólida, pois eu conseguia me mover livremente. E apesar do aparente sufoco, me sentia livre, à vontade. Porém, em razão da neblina, eu não conseguia ao menos olhar meu próprio corpo.
A neblina não tinha odor, nem mesmo calor, era apenas uma fumaça branca, que me envolvia completamente. Apesar disso eu não me senti sufocado, conseguia respirar tranquilamente, meus pulmões pareciam nunca ter funcionado tão bem, e certamente nunca o tinham.
            Dei-me conta de mim mesmo e comecei a andar. Não houve nenhuma dificuldade, para dizer a verdade, nem mesmo sentia meus pés tocarem o chão, por sinal, eu não avistava o chão. Comecei a caminhar e parecia não ir para lugar algum, como um bêbedo que caminha dirigido pelo instinto. Tudo começou a me parecer estranho, mesmo que eu ainda não soubesse o verdadeiro significado dessa palavra. Tentei tocar em algo ao meu lado, nem que fosse uma parede para me guiar, mas não encontrei nada. Fiquei assustado e pensei:
- Tentarei me guiar pelo chão, talvez alguma textura diferente me sugira algum caminho.
Abaixei-me, e ao tentar tocar o chão, nada encontrei. Meu coração se acelerou, comecei a achar tudo aquilo realmente muito estranho. Mas ainda não era o pior, pois ao tentar avistar o chão percebi que eu não tinha pés, nem pernas, enfim, não achei meu corpo. Rapidamente, como num reflexo natural, tentei avistar minhas mãos, mas em função da neblina (pelo menos assim achei eu a principio) não consegui avista-las. Logo em seguida tentei tocar meu corpo, mas nada encontrei. Dei conta de que talvez eu não fosse nada, talvez eu não existisse. Mas eu estava lá! Pensava e discernia tudo que acontecia, mesmo que não fosse capaz de compreender.
            Quando percebi minha condição, de inicio fui tomado pelo desespero. Tive vontade de gritar por socorro, mas não conhecia, ainda, alguém que poderia me acudir. Pensei em correr, e tentar novamente chegar a algum lugar, mas já havia tentado achar algo, e não tive sucesso, por isso desisti. Essa condição faz-me travar, como uma maquina que tem suas engrenagens agarradas por falta de óleo. Diria que meu corpo parou, se eu tivesse ou mesmo sentisse ter algum. Eu estava vazio, sim, vazio, talvez seja esse o termo. É difícil dizer com me sentia, pois na ocasião eu não dispunha das palavras que temos hoje. É difícil nomear posteriormente algo que aconteceu, quando não entendido o acontecido no devido momento em questão. Na verdade, não havia palavra alguma, é difícil criar nomes para o que sentimos, este é um trabalho árduo. É estranho pensar nisso, não ser nada, e ter pensamentos, palavras soltas. Se eu entendesse alguma palavra nesse momento, é o que eu seria palavras voadoras, soltas, livres e sem destino. Seria interessante.
Não era isso, eu não era uma palavra, pois apesar de não as conhecer, ainda, eu sabia das coisas, somente não sabia o que eram. Não tinha consciência de mim, não sabia nada sobre nada. Acho que algo terrível para quem existe é não saber quem ou o que é. Eu não sabia.
Não me restou outra opção, parei e comecei a pensar. Foi a primeira lição que aprendi. Quando não entendemos algo, quando estamos desesperados, quando não temos, ou não sabemos à quem chamar, quando tudo parece, ou de fato é uma mentira, e todas essas desventuras que conhecemos ao existir nos faz pensar em desistir, o que nos resta fazer é pensar.
            O pensamento me tomou por completo, perdi noção de mim mesmo, perdido em minhas idéias. Meus pensamentos me levaram a questionar e tentar entender o que estava acontecendo, mas logo percebi que era inútil ter tais pensamentos neste momento, pois eu ainda nem sabia como olhar para mim mesmo, como poderia entender sobre o que me rodeava? Mesmo não tendo, ainda, nada a minha volta. Refleti então a respeito de mim mesmo.
Já havia tentado olhar para meu corpo, e não tinha visto nada, na verdade eu nem ouvia minha própria voz, na hora nem mesmo sabia o que era isso. Pensei seriamente no que eu era, e percebi que eu não era nada além de uma ideia. Foi assim que descobri quem sou, Ideia.
Este nome me pareceu muito interessante, me veio como que por uma inspiração, talvez até tenha sido isso mesmo. Descobrir, ou inventar quem sou foi algo realmente importante, pois abriu caminhos para o passo seguinte, formar quem sou. Não foi necessário criar muito, e não demorou muito tempo. Apesar de já estar ficando bom naquela coisa de pensar, descobri também que isso não resolveria todos meus problemas, pois pensar fez eu me encontrar comigo mesmo, mas ainda faltava algo, ou alguém. Foi quando tentei novamente olhar para fora, como um peixe em um aquário imaginado quem o colocou ali. Teria que descobrir como apareci, como, enfim, foi meu surgimento, e o porquê de tal realização, Foi quando conheci meu primeiro amigo.

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